Apego e Conexão II

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1. Desenvolvimento de apego seguro e inseguro

Iremos agora explorar o desenvolvimento normal de apego seguro e inseguro, e neste último como se pode prever diversos problemas patológicos no desenvolvimento. Teremos em conta que as duas principais causas de apego inseguro inclui maus cuidados e o temperamento inato da criança.

Como visto anteriormente os humanos estão pré-dispostos a fortes apegos, e esse desenvolvimento normal ocorre quando os pais são consistentes nas interecções com a criança.

Scaffer e Emerson demonstraram que os bebés desenvolvem apegos mais fortes com as pessoas que são mais interactivas emocionalmente e socialmente. O bebé conecta-se mais com a pessoa que conversa com ele, abraça, brinca e ri. A implicação é que não é necessáriamente a pessoa que satisfaz as necessidades básicas de alimentação e cuidados higiénicos do bebé que se vai tornar na pessoa à qual o bébe se conecta mais, mas geralmente é a mesma pessoa que cuida e interage emocionalmente e socialmente.

Os bebés começam a cordenar os movimentos de acordo com os sons e sussuros associados aos humanos e aprendem rapidamente a alternar entre os pais. Vários psicologos e pesquisadores analisaram este processo, entre eles Condon e Sander, Stern e Kaye. Por exemplo, nesta interacção a criança mexe-se e depois pausa e aguarda uma resposta dos pais. Após essa resposta a mãe, por exemplo, pausa e aguarda que o bebé volte a interagir. Este “jogo” desenvolve uma interacção consistente e parece fazer parte do desenvolvimento de uma base segura de apego ou conexão.

Ainsworth identificou três estilos de apego, ou padrões: 1. Um apego seguro; 2. E dois tipos de inseguro: evasivo, e ansioso-ambivalente ou resistente.

A Situação Estranha

Para identificar o tipo de apego formado entre desenvolveu uma técnica ou procedimento conhecido de “Situação Estranha”.

A Situação Estranha consiste numa série de eventos, é um processo experimental que sujeita a criança a uma série de ligeiras situações de tensão. Este processo consiste em sete episódios, os quais ocorrem numa sala desconhecida dando oportunidade aos observadores de analisar de uma forma quase descritiva o comportamento da criança, quando esta se encontra sozinha, na companhia da sua mãe, e com um estranho.

Primeiro a criança é colocada numa sala na companhia da mãe. Noutra fase a mae deixa a criança sozinha. Noutra fase a mãe regressa. Noutra fase um estranho entra na sala. E noutra fase a mãe e o estranho estão os dois presentes. Esta experiência apresenta várias oportunidades de observarmos as reacções do bebé à separação da mãe, a reacção à presença do estranho, e a reacção é reunião com a mãe. São observados certos padrões de stresse na separação das mães e também na presença ou encontro com estranhos. Igualmente importante padrões é reunião com a mãe são também observados.

1. No primeiro episódio, a criança é levada para uma sala desconhecida, onde há muitos brinquedos, dando a oportunidade à criança de explorar o meio ambiente e brincar, na presença da mãe sem esta intervir. Nesta final desta fase a mãe deixa a criança sozinha.

2. No segundo episódio a mãe regressa e intervém. A situação surge com a entrada do estranho na sala, no ínicio silencioso, falando depois com a mãe e finalmente aproximando-se da criança para brincar.

3. A terceira situação é realizada somente entre o estranho e a criança. A mãe sai da sala ficando a criança sozinha com o estranho.

4. A quarta situação é entre a mãe e a criança. Passados alguns minutos, a mãe volta a entrar na sala e o estranho sai. A mãe quando entra compõe logo a criança.

5. No quinto episódio, a criança é o principal interveniente. A mãe sai da sala, deixando-o só.

6. No sexto episódio intervêm a criança e o estranho. O estranho entra na sala e interage com a criança.

7. Por fim a última situação, o sétimo episódio é entre a mãe e a criança. A mãe regressa e compõe a criança, e o estranho sai da sala.

Através da observação destes episódios o investigador vai constatar que o comportamento dos bebés de um ano é divergente, ou seja, consoante o tipo de vinculação que estabeleceram com a sua mãe, vão reagir às diferentes situações apresentadas. As crianças, ditas “firmemente vinculadas”, ou seja com vinculação segura, exploram, brincam com os brinquedos, aproximando-se com cuidado do estranho, ainda que na presença da mãe. Esta revela assim um moderado nível de proximidade na procura da mãe, podemos perceber isso quando a mãe sai e a criança fica um pouco perturbada mas fica feliz e entusiasmada com o seu regresso. Algumas crianças, ao contrário das primeiras acima mencionadas, não exploram a sala na presença da mãe ficando extremamente assustadas e até mesmo em pânico quando a sua mãe sai da sala, e quando esta regressa a criança reage com uma certa ambivalência emocional, ao mesmo tempo que quer que a mãe lhe pegue ao colo também “luta” com alguma agressividade para ir de novo para o chão.

Este padrão de comportamento é observável nas crianças “ansiosas/ resistentes”, sinal de um tipo de vinculação insegura resistente, podemos observar que a criança fica perturbada com a separação da mãe, é muito difícil de acalmar, porque procura conforto e ao mesmo tempo resiste. Outras crianças adoptam uma postura distante e afastada como se nada lhes importasse, mostra uma certa indiferença no reencontro com a mãe após a separação, não fica muito perturbada com a presença do estranho. A criança evita a todo o custo o contacto com a mãe. Trata-se de uma vinculação insegura evasiva. Esta situação é vista quando uma criança é retirada aos pais pela protecção de menores visto que corre riscos de vida porque é deixada ao abandono, ou passa fome. A criança por vezes mostra mais afecto pelo estranho do que pela mãe ou pai, é como se soubesse que lhe estavam a salvar.

Com base nos resultados observados, Ainsworth classificou esses padrões em três tipos, Tipo A, Tipo B e Tipo C.

Tipo A é um tipo inseguro, chamado de evasivo. O bebé parece ignorar a mãe, não exibe sinais de stresse quando ela o abandona, e evita-a quando regressa. Isto sugere um desapego ou desconexão da mãe.

Tipo B é o tipo Seguro, de Apego seguro. Neste tipo de apego o bebé demonstra bastante stress quando a mãe se afasta e procura a proximidade, afecto, e contacto quando ela regressa. O bebé tem facilidade em partilhar sentimentos e é facilmente confortado pela mãe. Este é o caso mais comum, a maioria das crianças têm este tipo, um tipo seguro.

Tipo C é chamado de ansioso-ambivalente ou resistente. Parecem ser inconsistentes ou ambivalentes em exibir stress. Quando se reúne com a mãe o bebé geralmente aproxima-se da mãe e depois afasta-se, por vezes parece que está a punir a mãe.

As classificações nesta Situação Estranha prevêm os tipos de apego que a criança desenvolve e as características que surgem de cada uma deles. Crianças com base segura têm facilidade em ter amizades mais seguras e normais, enquanto que o que surge do apego inseguro são problemas de comportamento como depressões e desordens de disposição, isto ocorre principalmente no Tipo C, resistente ou Ansioso-ambivalente.

Quase todas as crianças formam um tipo de conexão na sua infância. Problemas como Insegurança provêm primeiramente como resultado de interações inconsistentes entre pais e criança.

Outra experiência por parte de Brazelton e Tronick concluiu que quando as mães não respondem aos estímulos dos filhos, isto é permanecem imóveis ou com frieza emocional, isso cria uma tendência para que as crianças procurem evitar as mães.

Bebés prematuros correm o risco de desenvolver conexões inseguras e de sofrerem abusos, pois como nascem prematuros estão atrasados no desenvolvimento e ainda não possuem os mecanismos inatos, como sorrir, contacto visual, e são também mais imprevisíveis e instáveis nas repostas e rotinas.

Outros casos quando há hospitalização das crianças prematuras, os pais por vezes são separados por longos periodos o que torna mais difícil estabeçecer a conexão e apego. Devido a pesquisas nestes casos, hospitais e pediatras podem agora ajudar no ajuste dessas diferenças. Por exemplo, Tiffany Field, pediatra, psiquiatra e massagista, demonstrou que quanto mais contacto físico se têm com os bebés prematuros acelera o crescimento e o peso, tal como desenvolvimento neurológico.

Outros factores como o temperamento inato podem ter influência no tipo de apego desenvolvido.

Jerome Kagan descobriu que alguns bebés nascem com um temperamento extremamente inibido, e têm mais dificuldade em lidar com o mundo. São sensiveis à estimulação, principalmente quando descobrem novos aspectos do ambiente. Têm tendência a responder e reagir com cautela, comportamento inibitdo que também se transmite nas emoções e fisiologia. Hill Goldsmith e outros ciêntistas decobriram também que essas crianças têm mas probabilidade de desenvolver o Tipo C de apego, ou seja Ansioso-Ambivalente ou resistente. Mostram mais stress ao factor separação e mais medo de estranhos que outras crianças, tal como dificuldades em alterações ou mudança de ambiente.

Por outro lado as que são extremamente desinibidas provavelmente desenvolvem o Tipo A, ou seja Evasivas. Contudo estilos temperamentais só por si não prevêm problemas de comportamento da mesma forma que o tipo de apego preve.


Apego infantil e Relações adultas

Modelo Interno Funcional

O conceito de um Modelo Interno Funcional de Bowlby descreve o apego da criança e as suas funções na procura de segurança constante. Este modelo interno também influencia todos os apegos consequentes de daí surgem. Um estudo de Everett Waters** descreve esta relação. Estudos de Shaver e Hazan mostram que estas conexões infantis têm impacto em relações românticas e estilos.

Já explorámos a influência de uma base segura e insegura de apego no desenvolvimento da criança. Essas relações por sua vez vão influenciar as relações de amizade adolescente tal como relações adultas. Uma das principais funções dessa interacção é precisamente uma influência na formação e desenvolvimento de futuras relações.

O modelo interno funcional propõe que durantes os dois primeiros anos de vida as crianças desenvolvem um modelo interno das suas principais relações de apego. A criança forma um modelo mental interno de representação da pessoa à qual se conecta. Essa representação mental inclui os comportamentos e acções observados dos pais, e as emoções envolvidas na interação entre os dois. È como se fosse uma cópia ou um protótipo da pessoa e que lhe permite pensar ou identificar.

A funcionalidade desse modelo é uma constante alteração ou revisão progressiva. Esse modelo interno desenvolve-se mais quando a criança é separada dos pais, ou quando não estão presentes. Nesta situação a base segura da criança não está disponível e sendo assim emerge um sentimento de inseguraça. O modelo interno mental ajuda a combater a insegurança, no qual a criança tem um tipo de recordação ou lembrança e serve como reconhecimento dos pais quando se reunem. É como se fosse uma imagem, uma fotografia, ou um pente, algo que nos faz recordar e reconfortar. Ao desenvolverem a capacidade de usarem simbolos para representarem objectos ausentes tornam-se mais aptos, pois nem sempre precisam do objecto externo presente.

Além deste Modelo Interno Funcional servir como base segura, é também um modelo para futuras relações. Por exemplo quando a criança encontra uma pessoa nova e dá início a uma nova relação com essa pessoa, ela precisa de um guia como se fosse um manual de como responder e interagir. Nesse processo ao recorrer ao modelo interno já possui o modelo que precisa como base. Uma característica do modelo interno é ser dinâmico e alterável, as experiências e relações futuras podem também modificar a representação que se tem da relação de apego com os pais.

Sigmund Freud propôs o conceito de Transferência como exemplo. Transferência ocorre quando se transfere representações ou emoções que estão relacionadas com uma pessoa, como a mãe ou pai, para uma nova pessoa. Esse conceito de transferência está relacionado com o modelo interno funcional de Bowlby. A criança transfere as experiências da figura original de apego para uma nova pessoa como um meio ou mecanismo de descobrir como lidar com a nova relação. Deste modo as experiências anteriores servem como guia e orientação em resposta a novas relações.

Os adultos também usam representações dessas relações como modelos de interacção com os próprios filhos quando se tornam pais. Repetem padrões que experienciaram quanto eram crianças na educação dos próprios filhos. Essas representações internas dos pais podem ser também utilizadas como meios para interagirem com parceiros íntimos. Alguns dos padrões de interação em relações íntimas refletem o modelo interno criado e observado na interação entre os pais. Sendo assim o adulto relaciona-se com a pessoa íntima tal como os seus pais se relacionavam.

Evertt Waters e outros re-entrevistaram pessoas nos seus 20 anos que tinham sido testados por Ainsworth com a Situação Estranha quando eram bebés de modo a determinar a estabilidade de o estilo de apego. 1. Do periodo de infância ao adulto, 72% das pessoas continuaram a ter o mesmo estilo de apego seguro ou inseguro com os próprios filhos e esposos, que demonstraram ter quando eram bebés. 2. 64% mantiveram exactamente a mesma categoria de apego com os filhos e parceiros que tinham tido com os pais.

Contudo certas experiências de vida geralmente alteraram o tipo de apego. Uma pessoa que tinha um base insegura com os pais tinha mais probabilidade de manisfestar ciúmes e controlo sob o parceiro. Quem tinha demonstrado desobediência e revolta para com os pais tinha mais probabilidade de adoptar o mesmo comportamento para como o parceiro. Em contraste se a pessoa encarava os pais como atenciosos e amorosos um com o outro tinham mais probabilidade de serem mais amáveis e mostrar menos ciúmes e agressão para com o parceiro.

Noutra pesquisa, Phillip Shaver e Cindu Hazan utilizaram os três tipos de Apego (Tipo A, B e C) para explicarem os estilos de interacção observados em relações românticas.

1. Estilo seguro envolve um equilíbrio entre a preferência e procura de proximidade e uma necessidade de autonomia. Erikson já tinha proposto uma identidade segura e um sentimento de intimidade. Nestes casos existe facilidade em partilhar sentimentos, ter pouco receio de abandono, facilidade em desenvolver relações e tendem a incluir e preferir relações sexuais no compromisso com outra pessoa.

2. O tipo resistente, ancioso-ambivalente já envolve inconsistência nos sentimentos. Investem demasiado em relações e sendo assim exibem bastante ciúmes e necessidade de controlo e medo de autonomia. Demonstram também pouca auto-estima na relação romântica, gostam de contacto físico mas no entando têm problemas com o comportamento sexual. Geralmente o comportamento inconsistente afasta os parceiros.

3. O tipo Evasivo foca na autonomia e exclui proximidade. Não partilham facilmente os sentimentos e têm quebras ou mesmo relações falhadas. No entanto têm menos luto mas são mais solitárias. Têm mais relações sexuais casuais com diferentes pessoas, ou sexo sem compromisso. Este estilo reflecte também o estado de intimidade falhada de Erikson, na qual a pessoa se isola.

Shaver e Hazan constataram que adultos que reportaram a relação romântica como predominantemente segura também reportaram o mesmo estilo com os seus próprios pais. Recordam-se dos pais como calorosos e amáveis. A educação dos próprios filhos tende a ser sensiveis e não compulsiva. Adultos que reportaram a relação como sendo predominantemente Anciosa-Ambivalente descreveram o mesmo comportante com os próprios pais. Recordam-se dos pais como injustos, e tendem a serem compulsivos na educação dos próprios filhos. Os que descrevem a relação presente como evasiva do mesmo modo demontram ter o mesmo relacionamente com os próprios pais. Recordam-se das mães como frias e distantes, então o seu próprio estilo de parentesco tem a mesma tendência de ser rejeitador.

Em conclusão

Actualmente existem muitas pesquisas e estudos baseados na Teoria de Apego e fortes provas empíricas para os processos descritos por Bowlby e Ainsworth. Estes processos são mais precisos na explicação do desenvolvimento de relações que as descrições mais gerais das teorias de Freud e Erikson. Aparenta existir cada vez mais provas das influências negativas e positivas a longo prazo de apegos inseguros ou seguros. Esses processos são usados para explicar e compreender comportamentos relacionados com isso, processos de paixão, nostalgia, e trocas de relacionamentos quando um casamento ou relação íntima falha.

Teoria do Apego foi bastante influencial nas políticas hospitalares de visitas dos pais aos filhos, entregar os recém-nascidos às mães logo após o parto, como lidamos com separações entre pais e criança, entre outras práticas educacionais.

Esta teoria organiza e simplifica os processos de relações que ocorrem em humanos e permite compreender.

Referências e sugestões de leitura:

Waters, Vaughn, Posada, and Kondo-Ikemura, eds., “Caregiving, Cultural, and Cognitive Perspectives on Secure Base Behavior and Working Models: New Growing Points of Attachment Theory and Research.”

Hazan and Shaver, “Romantic Love Conceptualized as an Attachment Process.” (Article in the Journal of Personality and Social Psychology.) Shaver and Hazan, “Adult Romantic Attachment: Theory and Evidence.” (Article in the book Advances in Personal Relationships.)