Estruturas sociais e modelos económicos, Igualitarismo e Hierarquias (antropologia)

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Antropologia – Origens de estratificação social e hierarquias

Existem dois tipos de desigualdades, desigualdades sociais e diferenças individuais, duas coisas distintas que não se deve misturar no mesmo, e isto é crucial. As diferenças individuais podem-se considerar como diferenças nas capacidades físicas e cognitivas individuais, masculino e feminino, as origens neurológicas e biológicas da individualidade entre outros. Mesmo no caso de desiquilíbrio de conhecimento e meios entre os indivíduos isso não se transmite necessáriamente em desigualdades sociais, pois tudo depende da forma como é usado esse conhecimento e como se lida com essas diferenças. O conhecimento pode ser usado para o colectivo ou para centralismo, o factor principal, crucial e mediante são as normas da comunidade em manter uma estrutura horizontal igualitária.

Essas diferenças individuais não causam (primáriamente) as desigualdades e problemas sociais, mas sim as desigualdades sociais promovem claramente vários tipos de conflito sociais e problemas (guerra, disputas territoriais, fome, pobreza, doenças, etc) às quais os homens individuais e em grupo têm de recorrer para sobreviver, condicionados precisamente por essas desigualdades sociais de diferenças económicas, riqueza e acesso a recursos.

Antropólogos tendem a classificar diferentes sociedades de acordo com o grau que diferentes grupos numa sociedade têm acesso desigual a vantagens como recursos, prestigio ou poder. Virtualmente todas as sociedades desenvolveram um grau de desigualdade entre as pessoas através do processo de estratificação social – a divisão entre os membros da sociedade em níveis de desigualdade em riqueza, prestígio ou poder. Esse processo de estratificação origina-se do conceito fundamental de propriedade privada e trocas ou comércio monetário.

Contudo, a igualdade social, distribuição ou acesso igual a recursos sempre foi possível e praticada. Diferenças dependem em como as sociedades tratam as desigualdades. Algumas podem restringir as desigualdades para que elas se possam tornar transparentes e insignificantes (sociedades igualitárias) enquanto outras assentam em desigualdades (sociedades de classes e sociedades genealógicas). Três tipos diferentes de sociedades podem ser geralmente reconhecidas: Igualitárias, sociedades genealógicas, e sociedades de classe.


Propriedade (privada)

A primeira forma, ou origem de estratifação social, ou desigualdade social podemos remeter para o período Neolítico sob a forma de propriedade (privada). Tudo isso precede o conceito moeda de troca ou dinheiro.

A hierarquia social foi um produto da revolução neolítica, onde antes da invenção da agricultura havia pouco controlo sob o que havia disponível; sem a agricultura não se podia controlar o ambiente, havia um equilíbrio com a natureza, não havendo uma estrutura social hierárquica, competitiva, e onde não havia desigualdades económicas entre as pessoas. Os valores sociais eram baseados em igualdade, altruísmo e partilha, e proibiam literalmente domínio, agressão e egoísmo. Sabe-se isso através de pesquisa e estudo antropológico em várias sociedades Caçador-Colector no mundo, como tribos no Brasil que por centenas de anos, viveram uma vida semi-nómada, gerindo as florestas em acordo com as suas necessidades (!); e outros como os Bushmen, Aché, Amanyé, Botocudos, Os Aborígenes Australianos, Mbuti Pygmies, Hadza, Nukak… e também na Polinésia.

É de recordar que cerca de 90% da existência humana vivemos numa organização social que não utilizava dinheiro, hierarquia, e que possuíam estratégias contra o domínio, controlo, onde a maioria se juntava para “derrubar” algum indivíduo que tentava ganhar poder e controlo.

A revolução neolítica alterou tudo isso, por um lado trouxe benefícios mas por outro trouxe o desequilíbrio, estratificação social, desigualdade social (presente cada vez mais no mundo de hoje, com contraste crescente, num mundo onde existe manipulação estratégica, materialismo sem nexo, e obsessão com propriedade, desperdiço e mau aproveitamento dos recursos, quer abundantes ou não).

Liderança numa sociedade igualitária (antropológica) serve apenas propósitos especiais como carisma; não existem cargos políticos contendo verdadeiro poder, e o “chefe” é meramente um homem de influência, tal como um conselheiro. Os meios de consolidação tribal para acção colectiva não são assim governamentais. Tribos desenvolveram mecanismo de parentesco para acomodar uma vida mais sedentária, para redistribuir comida, e para organizar alguns serviços colectivos. A opinião pública tem um papel importante nas decisões.

Existem sociedades onde é mais importante oferecer tudo que acumular. Essas sociedades são conhecidas como Sociedades Homem-grande. Influência e reconhecimento são mais importantes que ser rico. Os Homem-grandes são distribuidores. Mesmo quando alguém como um homem-grande se encontra presente, prestígio é importante e relacionado a redistribuição. Contudo, o homem-grande oferece mais do que recebe à medida que o seu papel como distribuidor é definido. Se ele possui demasiado, ele perderá reconhecimento como o prestígio. Em efeito, ele é um membro igual da sociedade como um todo que tem um papel definido que inclui prestígio mas não riqueza, de reconhecimento mas não de estatuto. A sua função não é a de comandar, mas influenciar a sociedade através do seu exemplo. Pode agir como negociador com grupos vizinhos, e assegurar o bem-estar da comunidade. É um líder que exibe habilidades únicas e a sua reputação serve para incentivar outros a partilhar. A posição do Homem-grande nunca está segura no topo da hierarquia, mas sempre desafiada por diferentes homens-grandes que competem uns com os outros num processo contínuo de reciprocidade e distribuição. Logo esse sistema apenas promove a alimenta mais reciprocidade, reciprocidade competitiva!

Exemplos de sociedades Homem-grande : Melanésia (New Guinea e Austrália), e Polinésia.

Jean Jacques Rousseau

Estado e origens de desigualdade

De que forma estas atitudes se desenvolveram? Primeiro e acima de tudo é resultado de um mau sistema de educação, um sistema que falha ao ensinar valores, que se vê desconectado do objectivo de produzir compaixão e uma sociedade de partilha. O sistema educacional é responsável por isso, e está claramente errado, mas não apenas o sistema educacional mas também as instituições da nossa sociedade pelo seu egoísmo, pela incapacidade de encorajar os nossos instintos naturais.

Rousseau culpa a forma como a instituições produzem um estado de desigualdade, que pensamos mais em acumular montanhas de coisas que nas relações entre as pessoas e as interacções entre amigos. A desigualdade de riqueza é reforçada especialmente pela instituição de propriedade privada, uma das primeiras causas da separação existente entre humanos, o sistema moderno reforçou essa instituição. No seu discurso de desigualdade Rousseau reflete nas origens da disparidade de riqueza que claramente existia anteriormente e continua a existir.


O primeiro homem que, tendo-se apropriado de um pedaço de terra, interiorizou-se dizendo a si mesmo “isto é meu”, e que encontrou pessoas simplistas o suficiente para acreditar nele, foi o verdadeiro fundador da sociedade civil. De quantos crimes, guerras e massacres, de quandos horrores e desgraças nos poderiamos ter salvo se alguém tivesse gritado para os seus companheiros “Precaução ao ouvirem este impostor; estão condenados se por uma vez se esqueçem que os frutos da terra pertençem a todos, e a terra a ninguém!””


É resultado disto, o desejo por propriedade privada que emerge para reforçar uma ambição consumista, o zelar pelo nível relativo da fortuna de um para se elevar perante os outros, é isto que inspira todos os homens para esta tendência macabra de magoar os outros, competição e rivalidade contra a oposição de interesses, sempre o desejo disfarçado de lucrar às custas de alguém, o primeiro efeito da propriedade privada.


“A socidade moderna ao se desenvolver colocou correntes nos pobres, e deu novos poderes aos ricos que irrecuperávelmente destrui a liberdade natural, estabeleceu para sempre a lei de propriedade privada e desigualdade, converteu usurpação num direito inalterável, e, para a vanteagem de uns poucos individuos ambiciosos, submeteu toda a raça humana a trabalho perpétuo, servidão, escravatura e miséria.” “É claramente oposto à lei natural, como a definam, que uma mão cheia de pessoas se alimentam de superfluidades, enquanto a multidão faminta necessitam das necessidades básicas da vida.


O sistema educacional deve socializar as pessoas num espírito de um por todos e todos por um. O sistema deve ser alterado, mas o sistema pode ser mudado através da mudança interior, da atitude, temos de ir aos valores da sociedade, à base do problema, que é o modo como pensamos acerca de nós e uns dos outros. Temos de nos libertar das ilusões de separação, a ignorância que nos envolve, a liberdade do tipo de medo que inibe os instintos naturais, liberdade de ajudar o próximo nas suas necessidades, sabendo que a ajuda mútua é a base de uma sociedade afectuosa.

Rousseau denuncia a sociedade contemporânea como corrupta e depravada. Via na natureza humana um vasto potencial, e no entanto esse potencial preso num sistema que sufoca os nossos interesses. Uma visão da natureza humana, a visão do mundo anterior, antes de desenvolvermos esta sociedade.

Rousseau contempla as primeiras e mais simples operações do espírito humano, “penso que consigo compreender dois princípios anteriores à razão, um deles que nos interessa profundamente no nosso próprio bem estar e preservação, e o outro a excitar uma repugnância natural ao ver outro ser sensível, e particularmente da nossa espécie, a sofrer dor e morte.“


Referências e sugestões de leitura:

Discourse on the Origin and Basis of Inequality Among Men Rousseau, Jean-Jacques. The Social Contract Rousseau, Jean-Jacques. 1987. The Basic Political Writings. Indianapolis: Hackett.

Sistemas económicos

Culturas podem ser caracterizadas pelo tipo de sistemas económicos que suportam. Três formas de sistemas de trocas económicas são tipicamente reconhecidas por antropologistas: reciprocidade, redistribuição e trocas de mercado.

Trocas não monetárias: comércio recíproco e oferta

Igualitarismo

Reciprocidade encontra-se em todas as culturas, mas em sociedades de pequenas escala domina as interacções económicas.

Karl Polanyi divide as transacções económicas em três tipos principais: Reciprocidade, redistribuição e trocas de mercado. A reciprocidade é o acto de oferecer e receber presentes, solidifica as relação sociais e envolve não apenas significado económico mas também político e religioso.

O sociólogo e antropólogo françês Marcel Mauss, na sua clássica obra The Gift (1924) chamou a dádiva de “um fenómeno social total”, um contrato social implícito que fortifica as sociedades de pequena escala na ausência de lei contractual. Mercel Mauss utiliza o exemplo dos Maori da Nova Zelândia e a qualidade espiritural a que chamam de Hau. Os presentes são uma qualidade espiritual de Hau, que vem dos espíritos da floresta e tem de eventualmente regressar á floresta no circuito da troca.

Marshall Sahlins, oferece uma tipologia dos três tipos de reciprocidade:

-O primeiro é reciprocidade generalizada, habitualmente praticada em famílias e que envolve um fluxo de presentes numa direcção, como dos pais para as crianças, durante longos períodos. Este tipo é o mais próximo da nocção de puro altruísmo.

-O segundo tipo é reciprocidade equilibrada, os participantes investem o mesmo na produção de presentes como também na retribuição de presentes, embora haja uma negação explícita que as dádivas são contadas e registadas.

-No terçeiro tipo de reciprocidade, a reciprocidade negativa ocorre quando uma pessoas tira vantagem do entendimento implícito mas não retribui.

Nas sociedades de Bando como os Dobe Ju´Hoansi ou também conhecidos como !Kung, a reciprocidade geral forma a base da economia. O estilo de vida de caça e colecta não culmina na acomulação de posses pessoais; há muito pouca nocção de propriedade privada. As circunstâncias ecológicas dos Dobe Ju´Hoansi, ou !Kung, também contribuem para a necessidade de reciprocidade extensa, a longo prazo. Fontes de água, por exemplo, pertencem a uma grupo particular, mas os outros grupos nunca lhes recusam oferecer água se estivessem necessitados. Os Dobe praticam também reciprocidade equilibrada através de trocas hxaro, que são práticamente equivalentes a trocas de conchas, missangas, e outros bens com grupos vizinhos.

Os Yanomami praticam reciprocidade equilibrada através de Banquetes ou Festas. Estas Festas dos Yanomani são cerimónias sociais, económicas e eventos políticos. São ocasiões para os homens se enfeitarem com pinturas e penas, exibir a sua força numa dança de ritual agressivo; estabelecer trocas e parcerias ou serem reforçadas; e para a criação e teste de alianças.

Em 1968, Timothy Asch filmou um documentário que se tornou clássico chamado de The Feast (O banquete). Aconteceu na vila de Patanaowä-teri (pop. 225) que tinha convidado os Mahekoto-teri (pop. 125) para resolver uma antiga disputa e formar uma nova aliança. No início ritual do Banquete, ambos os grupos demonstraram o seu poder e ferocidade através de uma simulação de batalha. Durante o ritual a tensão era alta porque os Mahekoto-teri temiam uma embuscada enquanto que os Patanaowä-teri temiam que a sua generosidade não fosse reciprocada. Após essa reconciliação as duas vilas juntaram-se a atacaram um inimigo comum. Uma detalhada descrição desse evento, e o significado destes eventos Yanomani podem ser encontrado no capitulo 4 de Chagnon's Yanomamo: The Fierce People.

Outro exemplo são as Ilhas de Trobriand, famosas desenvolverem um reciprocidade equilibrada crescente conhecida como Kula, ou Intercambio Kula. Essas trocas são feitas entre individuos de ilhas diferentes com bens que são puramente simbólicos, como braçeletes e colares. As braçeletes apenas viajam numa direcção contrária aos ponteiros do relógio, e os colares apenas na direcção dos ponteiros do relógio no circuito Kula. Cada item tem uma história particular associada, quanto mais prestigiados os anteriores donos mais valor tem.

Reciprocidade não é apenas confinada em sociedades exóticas, de diversas formas facilita as interacçãoes sociais na nossa própria cultura, embora as regras da reciprocidade não sejam em grande parte mencionadas, e são intencionalmentee ambiguas. Na oferta de prendas e natal ou aniversário a alguem, ambos irão negar qualquer tipo de cálculo além da resposta puramente emocional – mas o registo é memorizado. Oferecer um presente demasiado pequeno pode ser um insulto, mas oferecer um demasiado grande pode também prejudicar uma relação ao colocar o destinatário em dívida excessiva. Comerciantes aplicam geralmente os príncipios da reciprocidade para vender produtos e promover a lealdade para com a marca ou produto.

Contrariamente à concepção popular, não há evidências de uma sociedade ou economia que se regia primáriamente em comércio recíproco. Em vez disso, sociedades não monetárias operavam maioritariamente em princípios de Economia de Doação. Quando comércio recíproco na verdade ocorria, era normalmente entre completos estranhos ou inimigos.

Reciprocidade é a forma mais simples de troca económica. Envolve oferecer um produto ou serviço a outra pessoa na expectativa de receber algo de valor similar em troca. Transacções recíprocas são trocas económicas, mas são também personalizadas, ocorrem entre pessoas que têm uma ligação, e servem para fortalecer essas afeições.

Com comércio recíproco, um indivíduo possuindo um objecto material de valor, como uma medida de grãos, podia trocar directamente esse objecto por outro objecto perceptivamente de valor equivalente, como um pequeno animal, um jarro ou uma ferramenta. As capacidades de transacções são severamente limitadas desde que depende de uma coincidência de procura. O vendedor de grão tem de encontrar um comprador que quer comprar grão e que também deseja oferecer algo em troca que o vendedor quer comprar. Não existe nenhum meio de troca comum para o qual ambos o vendedor e comprador podem converter as suas comodidades. Não há padrão que pode ser aplicado para medir o valor relativo de vários bens e serviços.

Em Ciências Sociais, economia da doação ou economia/cultura da dádiva é uma forma de organização social na qual os membros fazem doações de bens e serviços valiosos, uns aos outros. São regularmente oferecidos sem qualquer acordo explícito por recompensas imediatas ou futuras como no escambo ou num mercado (não existe quid pro quo formal). Idealmente, ofertas simultâneas e recorrentes servem para circular e redistribuir valores dentro da comunidade. Todavia, a obrigação de reciprocidade existe, não necessariamente envolvendo as mesmas pessoas, mas como uma corrente contínua de doações.

Alguns consideram as ofertas como uma forma de altruísmo recíproco. Outra interpretação é que o estatuto social é valorizado como recompensa das ofertas. Esta tradição reflecte altruísmo, pode ser um meio informal de segurança, ou pode emergir com ela estatuto social ou outros benefícios.

Referências e sugestões de leitura:

Marcel Mauss, The Gift. Arjun Appadurai, The Social Life of Things. Pierre Bourdieu, Distinction: A Social Critique of the Judgment of Taste. Chagnon's Yanomamo: The Fierce People

Economia redistribuiva

Igualitarismo

Numa economia redistributiva, bens ou trabalho são acumulados por uma pessoa específica, ou num local particular, e são subsequentemente redistribuídas pela sociedade.

Estas duas formas de sistemas económicos, reciprocidade e redistribuição promovem igualdade social e são consideradas um importante investimento e salvaguarda contra fome e pobreza.

Em sociedades de chefia, mercado redistribuitivo reforça relações politicas e económicas. Redistribuição funciona apartir da boa vontade produzida da reciprocidade: uma prenda, uma dádiva vinda de um amigo ou chefe inclui obrigação, e essa obrigação pode ser convertida em poder político.

Entre as Ilhas Trobriand, os chefes usam redes de troca complicadas e extensas.

Os ìndios Kawakiutl também praticam a forma de redistribuição nas suas festas Potlach. Os chefes usam potlatchs para fortalecer a união dos indíviduos, e não só oferecem grandes quantidades de comida, cobertores, arte nativa, como também destroem bens valiosos. Potlatches servem como uma importante rede de segurança económica para as regiões ocasionalmente mais pobres.


Economia redistribuitiva ocorre de certa forma em todas as culturas. Armazéns junta recursos e realojam conforme as necessidades. Nações-estado do mesmo modo praticam várias formas de redistribuição como sistemas de impostos. A redistribuição é o príncipio de organização económica e política de sociedades de chefia. Serve como um meio de endividar as pessoas e fortalecer poder político para o chefes. Obtendo capital político da redistribuição toca nas raízes de reciprocidade.


Nas Ilhas Trobiand existem Chefias, e os Chefes ganham estatuto através Intercâmbio Kula. Essas trocas são feitas entre indíviduos de ilhas diferentes com bens que são puramente simbólicos, como braçeletes e colares. São sociedades matrimoniais com uma hierarquia de estatuto: um chefe herda a sua posição não da parte do pai mas do irmão da mãe. Graduação e e legitimidade para chefiar é atribuida, é uma sociedade matriarca, permanecendo nessa linhagem. Dentro das limitações de geneologia, contudo, há grande margem para alternação de poder.

Os chefes são donos de todos os coqueiros e porcos; assim, qualquer consumo destes items é uma oferta simbólica do chefe. Inhames (planta, vegetal) são um atributo principal da dieta e o coração simbólico da sociedade Trobriand. Os homens nobre mantêm dois tipos de jardins: um de onde se alimentam e outro para trocas. Os homens passam muito tempo a cultivar inhames. São um símbolo de riqueza, poder e prestígio. Chefes exibem estes símbolos para demonstrar o seu valor político. Mas esses inhames expostos não podem ser cultivados pelo próprio cheve, devem ser ofertas dos familiares, dos membros da própria linhagem matriarca e das suas mulheres.

Homens ambiciosos políticos precisam que os familiares lhes oferecam inhames, para exibirem e redistribuirem.Malinowski observou que um homem recebia principalmente inhames da mulher do irmão.


Annete Weiner identificou que inhames provêm da parte matriarca mas que esses são oferecidos atráves da mulher que desenvolve assim uma obrigação do marido. Annete argumentou também que a troca Kula é melhor compreendida como uma procura por fama, aspirantes ambiciosos a chefes tentam obter a sua fortuna simbólica.


Pierre Bourdieu faz uma distinção entre capital económico e capital simbólico (que inclui capital social e cultural). Nas sociedades de Trobriand o valor de capital simbólico eclipsa o capital económico. Com as ofertas de inhames, um marido é capaz de redistribui-los à comunidade e assim construir a sua base política. Essa preocupação com o inhames vêm do climax durante os festivais de colheita em Julho e Agosto. Conhecido como mwasawa (o “tempo de brincar”), um aspecto central do festival é competição de inhames entre os chefes. Inhames de competição são conhecidos como kuvi. O chefe com o maior inhame ganha a competição e aumenta o seu prestígio como grande homem.


Os Kwakiutl (pronuncia-se quá-guiúth) são um sociedade de chefia da costa nordeste do Oceano Pacífico do Canadá. Investigados primeiro por Franz Boas, hoje essa sociedade é melhor conhecida pelos seus Pólos de Totem, esculturas monumentais (geneologias de chefias) e máscaras (principalmente as máscaras de transformação espectaculares).

Uma anómalia para um sociedade de chefia, a sua economia não é baseada em agricultura, em vez disso é baseada em pesca de salmão. A abundância natural de salmão era suficiente para alimentar a grande densidade populacional que deu origem à organização política de chefia. Os Kwakiutl são principalmente matriarcas, embora alguns grupos pratiquem descendência cognática (ambos dos pais e mães).

Tal como nos Trobriands, os chefes exercem o direito das suas funções através de herança, ainda que muita manobra politica de posição aconteca. Os chefes têm de reforçar constantemente o seu apoio e expandir a sua base para permanecer no poder. Fazem isso através de Festejos chamados de Potlatches. Fazer um Potlach requer meses ou anos de poupança e preparação. Convidados de vilas vizinhas são convidadas e festejam durante vários dias. São oferecidos aos convidados prendas de arte, óleo de peixe, bagas e cobertores. Os chefes por vezes também destroem canoas ou peça de arte.

Desde a primeira investigação de Boa, o potlach sempre intrigou os antropólogos. Boas viu o potlatch como produto de uma história particular. A aluna de Boa, Ruth Benedict expandiu essa noção argumentando que era um padrão cultural que ficou fora de controlo com contacto ocidental. Outro argumentam que serve uma função material ao aumentar a produtividade e oferecer uma rede económica de segurança.


Referências e sugestões de leitura:

Annette Weiner, The Trobrianders of Papua New Guinea. Bronislaw Malinowski, Argonauts of the Pacific. Ruth Benedict, Patterns of Culture.

Trocas monetárias

Dinheiro como meio de troca e comodidade

O que é o na verdade o dinheiro?

Dinheiro é qualquer objecto que é geralmente aceite como pagamento por bens e serviços e pagamento de dívidas numa determinada nação ou num contexto socioeconómico. As principais funções do dinheiro distinguem-se entre: meio de troca; unidade de medida; armazenamento de valores; e, ocasionalmente, um padrão de meio de pagamento.

Dinheiro de comodidade é dinheiro cujo valor provém de uma comodidade pela qual foi originado. São objectos que têm valor próprio tal como usado como dinheiro. Exemplos de comodidades que têm servido de meios de troca incluem ouro, prata, cobre, sal, pimentão, pedras preciosas, cintos de decoração, conchas, álcool, cigarros, cannabis, doces, cevada., etc. Estes itens foram por vezes usados numa métrica de um valor em relação a outras métricas, em várias valorizações cómodas ou preços de sistemas económicos.

Os Maias possuíram diversas formas de moeda nas suas trocas, entre elas, sal e Obsidiana que dominaram o mercado. Itens de luxo como Jade, Penas de Quetzal uma ave rara, cacau, conchas do mar, jarros de policromia, vestuário bordado, Sílex, Âmbar, e Turquesa foram também usadas com moeda. Eventualmente apenas o ouro e prata perduraram. No séc. 7 A.C moedas de metal emergiram na Grécia e Ásia.

Podemos concluir daqui que em trocas monetárias de mercado surge um desiquilíbrio entre quem possui mais dinheiro, ou quem possui mais propriedade desses itens de valor e os que têm menos, o que por sua vez corresponde a um determinado acesso limitado a recursos. Remete indirectamente ao conceito básico e fundamental de propriedade, sendo também o dinheiro a ferramenta para adquirir propriedade privada, mas também é o proprio sistema em si.

Imperialismo e colonialismo

No Imperialismo existe a criação e a sustentabilidade de desigualdade económica, cultural e territorial, geralmente entre estados e na forma de um império baseado em domínio e subordinação com o interesse no domínio dos recursos e intenção de lucro. Esta é a prática, a teoria e atitudes de um centralismo metropolitano dominador regendo um território distante, e colonialismo refere-se a “implantação de bases num território distante”.

O colonialismo refere ao estabelecimento e permanência de colónias num território por pessoas de outro território. A justificação para colonialismo incluiu vários factores como o lucro das trocas e a expansão de poder da metrópole. Adicionalmente, a racionalidade era baseada em crenças religiosas e politicas relacionadas com cultura e tecnologia.

Capitalismo

Durante o período de expansão Europeia, emergiu um sistema económico no mundo que ainda hoje continua. Essa ideia é associada a Immanuel Wallerstein e André Gunder Frank que desenvolveram a Teoria de Sistemas Mundial, ou teoria de dependência.

No início da expansão colonial o que aconteceu foi que todos os países do mundo foram devidos em duas categorias principais: países centrais (1º mundo) e países periféricos (3º mundo). Wallersteing e Frank argumentaram que os poderes coloniais estabeleceram um sistema económico em que os países periférios exportavam materiais para países centrais, e esses materiais seriam convertidos em comodidades nos países centrais e vendidos para obter lucro. O lucro permanecia nos países centrais e seria reinvestido em tecnologias que mantinham os países centrais avançados económicamente e tecnologicamente e mantinham os países periféricos sem desenvolvimento. Podemos considerar o exemplo do algodão da India, o algodão era exportado para a Inglaterra para ser convertido em testéis e vendidos para obter lucro para investimentos tecnológicos.

Wallersteing e Frank argumentaram que este sistema de dependência entre os países centrais e periféricos estabelecido no período colonial continua até hoje e domina as relações económicas globais.

Sendo assim, o centro é a área de grande desenvolvimento tecnológico que produz produtos complexos; a periferia é a área que fornece matérias-primas, produtos agrícolas e força de trabalho barata para o centro. A troca económica entre periferia e centro é desigual: a periferia tem de vender barato os seus produtos enquanto compra caro os produtos do centro, e essa situação tende a reproduzir-se de forma automática, quase determinista.

A versão drástica deste sistema de estratificação social é o Capitalismo, o sistema político-económico.

O capitalismo é um sistema econômico em que os meios de produção e distribuição são de propriedade privada e com fins lucrativos; decisões sobre oferta, procura, preço, distribuição e investimentos não são feitos pelo governo; os lucros são distribuídos para os proprietários que investem em empresas e os salários são pagos aos trabalhadores pelas empresas. O capitalismo também se refere ao processo de acumulação de capital. A propriedade privada dos meios de produção, criação de produtos ou serviços com fins lucrativos num mercado, e preços e salários, são elementos característicos do capitalismo.

A maioria dos economistas políticos enfatizam a propriedade privada, as relações de poder, o trabalho assalariado e as classes económicas. Há um certo consenso de que o capitalismo incentiva o crescimento económico (apenas produção de dinheiro em si), enquanto aprofunda diferenças significativas de rendimento e riqueza. O grau de liberdade dos mercados, bem como as regras que definem a propriedade privada, são uma questão da política e dos políticos, e muitos Estados que são denominados economias mistas.

A partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, inicia-se um processo ininterrupto de produção colectiva em massa, geração de lucro e acumulação de capital.

Com a Revolução Industrial a era da agricultura foi superada, a máquina foi superando o trabalho humano. O capitalismo tornou-se o sistema económico vigente. A partir da Revolução Industrial o volume de produção aumentou extraordinariamente: a produção de bens deixou de ser artesanal e passou a ser maquinofaturada; as populações passaram a ter acesso a bens industrializados e deslocaram-se para os centros urbanos em busca de trabalho. As fábricas passaram a concentrar centenas de trabalhadores, que vendiam a sua força de trabalho em troca de um salário. A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações dos países que se industrializaram.

Desde a antiguidade até a Revolução Industrial (Século XVIII), o trabalho sempre foi feito de forma artesanal, manual, por escravos, trabalhadores servis, ou trabalhadores livres, o modo de produção nunca mudou, o trabalho sempre foi braçal e as poucas ferramentas usadas sempre foram as mesmas. Apenas a partir da Revolução Industrial, com o surgimento das máquinas, e com elas o surgimento da divisão do trabalho nas fábricas, é que o modo de produção mudou. Entre algumas das Invenções desse período encontram-se: o motor a vapor, fabrico de aço, locomotiva a vapor, invenção do telefone, iluminação eléctrica…

O capitalismo provocou uma mudança antropológica profunda para toda humanidade catalisando a destruição de muitas culturas sociais e a modificação radical de muitas outras. A maioria dos socialistas possuem a opinião de que o capitalismo concentra injustamente o poder e a riqueza entre um pequeno segmento da sociedade que controla o capital e deriva a sua riqueza através da exploração, criando uma sociedade desigual, que não oferece oportunidades iguais para todos a fim de maximizar suas potencialidades.

Karl Marx – Crítica ao capitalismo

O capitalismo, que surgiru na Inglaterra no século 18, tornou-se no modelo económico dominante de organização no mundo. A expansão do capitalismo trouxe também mudanças culturais fundamentias. A perspectiva Marxista define o capitalismo quando o trabalho começa a ser tratado como uma comodidade que pode ser comprada e vendida na mercado. Na antropologia cultural, aplica-se o conceito de hegemonia que se refere às formas como o domínio pode ser alcançado através de doutrinação cultural em vez de força bruta. Karl Marx argumentou que a cultura (na forma de ideologia) pode cegar os indivíduos nos seus proprios interesses. Antonio Gramsci expandiu essa nocção ao introduzir o conceito de hegemonia para explicar como o controlo sob a educação e a imprensa impõe ideologias dominantes.

Marx define capitalismo de um modo especifico: quando o trabalho se torna uma comodidade. Marx apresenta uma esquema em que a comodidades (C) e dinheiro (M) são trocadas. Na mais simples forma de trocas, trocas directas, uma comodidade é trocada por outra: C—C. O dinheiro emergente então como um intermediário nessa equação: C—M—C. A era da exploração e trocas globais trouxe o que Marx definiu como Mercantilismo: M—C—M. Neste caso a abstração do dinheiro substitui a utilidade concreta da comodidade como o objectivo de troca, ou seja o objectivo passa a ser aquisição de capital monetário. Finalmente, no último passo, o capitalismo emerge quando parte de C = trabalho/ mao de obra, ou por outras palavras quando a mão de obra passa a ser tratada como comodidade.

Exemplos:

Desenvolvimento na produção de roupa de algodão no séc. 18 tive grande influência na revolução industrial Britânica. Texteis de lã eram produtos importantes da Inglaterra, Irlanda e Escócia, produzidos por artesãos. Esse era também o modelo para a produção de texteis de algodão. Contudo, apartir de 1730 os desenvolvimentos tecnológicos de John Kay da lançadeira volante ou rotativa, e a desmontadora de algodão de Eli Whitney em 1793 levaram a enormes aumentos em eficiência. Em 1810, podiam produzir 200 vezes mais algodão que em 1740, mas a produção era concentrada em moinhos de água e mais tarde a vapor. Com esse aumento na eficiência veio o custo da vida independente dos artesãos produtores, que não podendo competir com o preço com a grande indústria foram eventualmente forçados a trabalhar para as fábricas.

Marx argumentou que essas alterações na base económica produziu novas formas de organização social, incluindo a intensificação da alienação dos trabalhadores e consumidores. Nas formas de produção capitalista, trabalhadores não controlam os meios de produção mas são livres de vender o seu trabalho no mercado. Os trabalhadores tornam-se alienados dos frutos do seu trabalho, deixando de sentir a conexão pessoal artística do seu produto que até então tinha sido a norma em toda a história humana.

Karl Marx viu a sociedade e cultura a ofuscar as circunstâncias materiais individuais, levando as pessoas a agir e comportar não no seu próprio interesse. No seu ensaio “O 18 de Brumário de Louis Bonoparte”, Marx desenvolvou a nocção da consciência “falsa” ou “escondida”. Viu os camponeses franceses a serem usados pela persuação e retórica Napoleónica de Louis Bonaparte para impor a imagem benevolente do seu tio, Napoleão Bonaparte. Como consequência essas políticas que encorajavam a propriedade privada forçaram os camponeses a hipotecar o seu património à classe bancária emergente. Marx também argumentou que a religião é um ópio das massas, e submergir a consciência de classe.

António Gramsci desenvolveu essa ideia de falsa consciência para o conceito de hegemonia, que consiste no consentimento “expontâneo” dado pelas grandes massas de população à direcção geral imposta na vida social pelo grupo dominante fundamental. Por outras palavras é o mesmo que dizer que essa hegemonia acontece quando a classe dominante faz uso do acesso previgiliado da imprensa e exposição pública para fomentar apoio a um sistema de os favorece, e que se torna “natural” ou “senso comum” e inquestionável.


Karl Marx identifica três componentes diferentes – o ser natural, o ser alienado e a espécie- um progresso de uma evolução de três estágios.

Primeiro existe o ser natural na sociedade natural, e este inclui as nossas necessidades primárias – alimentação, roupa, abrigo, sexo e trabalho, algum tipo de actividade produtiva – necessidades de sobrevivência de uma espécie.

Em segundo plano há o ser alienado na sociedade alienada, a presente sociedade como uma sociedade profudamente corrupta. A nossa actual condição de sociedade contemporânea criada por todo o modo de produção económica, o modo capitalista de produção – não apenas a instituição de propriedade privada - que cria esta alineação. As raízes da corrupção provêm do sistema capitalista que nos alienou das necessidades básicas, e devido a esta corrupção sistémica estamos divididos uns dos outros. Sofremos neste estado de desigualdade de estarmos insuficientes em termos de necessidades básicas, enquanto outro estão mais que suficientes, mas ambas as classes estão alienadas, alienadas da sua essencia, da descoberta, da satisfação do ser e da humanidade. Toda esta corrupção é baseada em desigualdade, reforçada pelo capitalismo e distorce a nossa existência. Devido ao sistema capitalista ocorreu uma distorção de valores básicos que nos infecta a todos.


A propriedade privada tornou-nos tão estúpidos e cegos que um objecto só é nosso quando o possuímos, quando existe para nós como capital ou directamente possuído”. Não podemos conceber assim o contentamento de um objecto a não ser que o possuamos e chamemos de propriedade privada. “Iludimo-nos ao pensar que quando mais dinheiro temos mais rica será a nossa existência, mais segurança teremos, quando na verdade o dinheiro apenas aumenta os nossos desejos, apenas nos distância das necessidades básicas. Não conseguimos comunicar com outros que têm menos dinheiro porque estamos demasiado preocupados em proteger o nosso.”


O sistema capitalista tem falhas fundamentais inerentes, a sua grosseira capacidade de estabelecer grosseira disparidade de riqueza. Auto-destroi-se como resultado de uma ganância infindável. Isto é injusto, injusto que tão poucas pessoas devam controlar tanto dinheiro, e que tantos devam viver sem ele.

O sistema capitalista controla os nossos valores ao nos socializar em entidades de domínio e submissão. Somos ensinados que domínio é admirável. A nossa necessidade de trabalhar é distorcida numa sociedade capitalista, isso devido à vastas concentrações de riqueza e domínio dos ricos, os que estão envolvidos no trabalho diário estão necessariamente alienados e a necessidade natural de trabalhar tornou-se numa actividade alienada.

O que então constitui a alienação do trabalho?


Primeiro, o facto que o trabalho é externo ao trabalhador, não pertence à sua natureza intrínseca, que no seu trabalho, sendo assim, ele não se afirma mas nega-se, não se sente satisfeito mas infeliz, não desenvolve livremente a sua energia física e mental mas mortifica o seu corpo e arruína a sua mente. O trabalhador deste modo apenas se sente satisfeito fora do seu trabalho, e no seu trabalho encontra-se fora de si. Sente-se em casa quando não trabalha, e quando trabalha não se sente em casa. O seu trabalho não é voluntário, mas forçado; é trabalho forçado. Não é assim a satisfação de uma necessidade, é meramente um meio para satisfazer necessidades externas a ela. O carácter alienígena emerge claramente do facto que mal deixe de existir compulsão física ou outra, o trabalho é evitado como uma praga. Trabalho externo, trabalho onde o homem se aliena, é trabalho de auto-sacrifício, de mortificação. Por último, o carácter externo do trabalho para o trabalhador surge no facto de não ser seu, mas de outro, que não pertence mais a si mesmo, que pertence não a ele, mas a outro. Tal como na religião, a actividade espontânea da imaginação humana, do cérebro e coração humano, opera no indivíduo independentemente dele – isto é, opera como uma actividade alienígena, divina ou diabólica – pela actividade humana não ser espontânea. Pertence a outro; é a perda de identidade.”


Podemos pensar, porque passamos tanto tempo da vida envolvidos numa actividade que acabamos por odiar, porque sinto que a própria actividade não faz parte de mim? Porque será que com o acumular de horas de trabalho cada vez mais começo a pensar apenas na minha escapatória dele, e nas minhas férias e o que posso poupar para elas. Não é sentido de alegria na produção criativa do trabalho, apenas uma sensação de aborrecimento.”

Quer estejamos viciados em trabalho e no processo de trabalho, incapazes de nos controlarmos, ou quer nos desliguemos da atitude trabalhadora e sermos completamente desempregados, estamos de qualquer das formas vitimizados pelo sistema, porque somos incapazes de encontrar o trabalho criativo e original que realmente precisamos, que é a essência da nossa existência.

Falando no contexto de poder sob pessoas, Marx introduz o conceito de poder económico.


Referências e sugestões de leitura:

Antonio Gramsci, The Prison Notebooks. Karl Marx, Das Capital Karl Marx, The Eighteenth Brumaire of Louis Bonaparte. Eric Fromm, Marx’s concept of Man James Scott, Weapons of the Weak.

Monetarismo

Evolução do sistema monetário e banca

Os primeiros bancos foram provavelmente os templos religiosos da antiguidade. Bancos provavelmente surgiram anteriormente à invenção de dinheiro. Os depósitos inicialmente consistiam em grãos e posteriormente outros bens incluindo gado, implementações agricultoras, e eventualmente metais preciosos como outro, na forma de placas comprimidas de fácil transporte. Templos e palácios eram os locais mais seguros para armazenar ouro. Como locais sagrados, templos apresentaram um obstáculo extra a possíveis assaltantes. Existem registos de empréstimos do segundo século A.C na Babilónia que eram feitos por padres templários e monges aos comerciantes.

No séc. 16 na Europa Goldsmiths armazenavam moedas de ouro, ou simplesmente ouro dos seus clientes com taxa e passavam recibos pelo depósito, começando assim o uso de dinheiro na forma de papel. Se depositassem 10 onças de outro em segurança recebiam recibos no valor de 10 onças de ouro, e com esses recibos podiam levantar o ouro instantaneamente do deposito. Esses recibos tornam-se vastamente aceites como meio e ferramenta de troca. Esta é a origem de notas de banco como substituto de dinheiro.

Eventualmente os primeiros bancários desenvolveram esse processo. Se o goldsmith tivesse 1000 onças de ouro depositado e 1000 onças na forma de recibos legítimos na posse dos clientes, poderiam aumentar o lucro meramente “imprimindo” outros recibos no valor de 1000 onças de ouro e adicionar ao mercado, assim ficariam com uma reserva fraccionária de 50%. Apenas 50% dos recibos eram então cobertos por ouro! Deixou de haver um rácio de 1 para 1 de papel para ouro, agora poderia haver 3 pedaços de papel em circulação por cada unidade de ouro no cofre. Estes banqueiros já não estavam simplesmente a armazenar seguramente o ouro por uma taxa, mas estavam artificialmente a inflacionar a quantidade de dinheiro e a emprestar esses recibos com juros. Este sistema ficou conhecido como Sistema Bancário Fraccionado e foi posteriormente adoptado nas primeiras colónias americanas.

Basicamente é um sistema fraudulento (!)que não é permitido em qualquer outro negócio, é virtualmente a falsificação de dinheiro. Se alguém emite “recibos” de algo que não é suposto estar armazenado ou na sua posse é considerado crime. Os bancos são uma e a única indústria com “permissão” para tal prática e ainda lucrar com isso.

O primeiro banco central de um país a praticar o empréstimo de reserva fraccionada foi o Banco da Inglaterra, constituído em 1694 e de natureza privada. Era controlado por accionistas fraudulentos e mal-intencionados que utilizaram o mote “banco do povo”, para praticar toda sorte de fraudes visando unicamente o lucro (!).

Dinheiro originou-se como dinheiro de comodidade, mas praticamente todos os sistemas monetários contemporâneos são baseado em moeda fiduciária. Fiduciária deriva da palavra fedúcia, que significa confiança. A moeda fiduciária é portanto a moeda que circula na confiança dos clientes poderem vir a ser reembolsados em ouro, muito embora os Bancos estejam impossibilitados de reembolsar todos os clientes simultaneamente. Moeda fiduciária é sem qualquer valor intrínseco como comodidade física, e o valor provém da quantidade de dinheiro em circulação e ser declarado pelo governo como moeda corrente de uso legal; isso é, deve ser aceite como forma de pagamento dentro das fronteiras do país, para “todas as dívidas, públicas e privadas”.

E, assim sendo, até à Primeira Guerra Mundial, o valor de uma moeda nacional variava consoante a reserva de Ouro que um Banco Central possuia. Era chamado o padrão-ouro. Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, a maioria dos países europeus abandonou o padrão-ouro, principalmente devido às expansões monetárias e fiscais realizadas para financiar a guerra. O Banco de Estocolmo foi dos primeiros a assim emitir Ordens de Pagamento postais e Títulos de Tesouro que correspondiam a valores superioriores à quantidade de ouro retida nos seus cofres.

Os capitalistas não usam a suas poupanças para investir nas empresas, inventam dinheiro e fazem o povo pagar. Ao investirem dinheiro estão a inflacionar a economia e quem sofre com a inflação e a paga é o povo, devido ao desfasamento entre a inflação e os salários. Os únicos que ganham são quem recebe os empréstimos dos bancos, pois aumentam as “poupanças”, e quando a inflação chega quem ganha também são as empresas do mercado onde o dinheiro do povo é investido no produto comprado, que tem de pagar mais caro por algo que custou o mesmo a produzir pelas empresas.

O verdadeiro beneficiário é quem cria o dinheiro, e depois quem o recebe por empréstimo pois recebe dinheiro que não teria se assim não fosse, embora tenha de pagar juros. Mas o que acontece é que o mercado tem preços e salários na base do que acredita que é o total dinheiro em circulação. Depois os bancos criam mais dinheiro que o mercado não tem conhecimento, mas que descobre pois o dinheiro novo entra em circulação. Então quem recebeu o empréstimo do banco vai, por exemplo, comprar cimento e esse cimento está ao preço original do mercado.

Enquanto o novo dinheiro começa a infiltrar na sociedade o mercado percebe que existe mais dinheiro que antes, mais dinheiro e procura para a mesma quantidade de bens e oferta, isso significa que os preços sobem. Então esse mesmo cimento que se comprou ao preço original do mercado por quem recebeu o empréstimo vai custar a outros mais caro. Se o povo compra esse mesmo cimento a um preço mais caro antes do salário aumentar o que acontece á sua verdadeira riqueza? Perde poder de compra, perde riqueza, que é transferida para quem recebe o empréstimo, para os bancos, pois possuem o verdadeiro valor do dinheiro desde início, chamado de valor nominal, e também para as empresas que recebem mais pelo mesmo produto.

Este sistema transfere riqueza, de certa forma não se consegue seguir, mas o princípio é que transfere dinheiro da sociedade para os criadores do dinheiro. Neste sistema os ricos ganham sempre e o pobre perde, chama-se a isto transferência da verdadeira riqueza do pobre para o rico, ou da classe baixa para a alta. Isto é capitalismo moderno, a forma de estratificação e desigualdade mais extrema.

(Ir)racionalidade da economia – Economia cultural e formal

Cultura e economia estão intímamente relacionadas, mesmo que áreas académicas separem os seus estudos. Economia pode ser definida como o estudo de como se gerem recursos escassos e os gerem para fins específicos.

Nas origens gregas de economia, originalmente refere-se à ciência de decisão económica no “agregado familiar”. Ainda que seja uma ciência baseada num grande número de suposições sobre racionalidade, iremos criticar algumas dessas premissas da economia.

Temos de analisar o racional económico da perspectiva de culturas diferentes. Descobrimos que valores simbólicos (em vez de apenas utilidade material) motivam as transações económicas entre os Dobe, nas Ilhas Trobriand, e mesmo até na cultura contemporânea ocidental. Deste modo analisamos a economia num contexto cultural, reconhecendo as suas valiosas contribuições para compreender o comportamento humano mas também compreendo que lógicas económicas variam entre culturas.

Estudos e experiências recentes de economia experimental e comportamental, principalmente o “dilema do prisioneiro” e “jogos de ultimato”, mostram como noções de igualdade económica geralmente sobrepõem-se ao racional de interesse próprio, até mesmo na nossa cultura.

Economia é o estudo de como recursos limitados são geridos e distribuídos. A economia tinha o objectivo original de gerir agregados familiares. Durante o séc. 20 passou de uma abordagem mais filosófica e humanista para uma orientação mais científica. A economia estuda a produção, distribuição e consumo de bens, incluindo não só como produzimos os bens e consumimos mas também as relações sociais que envolvem.

Antropólogos económicos têm uma abordagem diferente que os economistas formais. Essa disciplina de economia formal adoptou um paradigma formal que tenta isolar o comportamento humano do contexto social ou cultural. Na antropologia a economia obtém uma abordagem substancivista, vendo todas as relações económicas contidas em contextos sociais específicos.

Economia Formal

Na economia formal houve uma transição do estudo político económico (Adam Smith e Karl Marx) para econometria – isto é, modelos matemáticos de comportamento. Muitos modelos económicos baseam-se na suposição que se todos são racionais, e se se comportarem para o seu interesse próprio isso impulsiona os interesses de todos (a mão invísivel de Adam Smith).

“Não é da benevolência do talhante, do cervejeiro, ou do padeiro, que nós esperamos o nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse. Nós nos dirigimos não á sua humanidade mas ao seu amor próprio, e nunca fale para eles da sua própria necessidade mas das vantagens deles. Ninguém, além de mendigo, sujeita-se a depender sobretudo da benevolência dos seus semelhantes. Qualquer indivíduo não tenta promover o interesse público nem sabe o quanto promove. Ele intenciona apenas o seu próprio ganho; e ele é assim, como em muitos outros casos, guiado pela mão invisível para promover um fim que não além da sua intenção.” Adam Smith, A riqueza das nacções.

O estudo da economia refere-se à gestão de recursos escassos para desejos ilimitados, e que temos de descobrir com os gerir. De certa ultrapassou esse conceito e tornou-se numa ideologia, uma mentalidade cultural, um modelo cultural, um modo de ver o mundo que geralmente parece ser o estado natural da coisas, que os mercados livres são o estado natural. No entanto campanhas publicitárias de imagem colocam um problema para os modelos racionais. Em contraste, a abordagem substantivista é mais relacionada com cultura.

Modelos económicos tendem a assumir uma racionalidade rígida e aplicação universal, o que é obviamente bastante problemático. A antropologia mostra que existem várias lógicas culturais, vários racionais em sociedades diferentes. Essa suposição económica de haver uma única racionalidade, uma racionalidade de interesse próprio é no mínimo problemática. A nocção que os humanos são racionais e agem para maximizar o lucro do seu investimento, investimento de tempo, dinheiro, procuram maximar utilidade. Mas este é um daqueles conceitos vagos, perigosos, confusos, o da utilidade, que engloba bastantes aspectos culturais que se torna inútil! Utilidade é a funcionalidade de um objecto, mas essa utilidade é definida pela pessoa e isso varia substancialmente de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, e não pode ser reduzida a uma única escolha racional.

Economia substantivista ou cultural

Economistas antropológicos, ou substantivistas, argumentam que muitas das suposições de modelos económicos podem funcionar em culturas ocidentais mas que não se aplicam em sociedades nativas. As economias são totalmente integradas na sociedade e cultura, as economias emergem das culturas e não podemos ter leis universais que se aplicam em todo o mundo. Marshal Sahlins demonstrou como até mesmo a indústria de alimentação é baseada tanto em consumo cultural como necessidade material.

Podemos pensar em várias contra argumentos da racionalidade de interesse próprio, como por exemplo os Dobe Ju´Hoansi. A ideia que existem recursos e bens escassos para desejos ilimitados não se aplica aos Dobe, eles não têm desejos ilimitados, e acomular muitas coisas seria um problema para eles, preocupam-se mais em fazer amigos do que acumular bens. Nas Ilhas Trobriand, os nativos passam grande parte do tempo a trocar Inhames, e mesmo os inhames grandes não podem ser comidos, o valor é simbólico; ou também as trocas Kula, onde trocam conchas e braceletes, esses objectos têm muito pouca utilidade material, a utilidade é simbólica. A economia de trocas está embedida nesses sistemas culturais de trocas específicos. Deixa de ser capital económico, mas capital simbólico de honra e prestígio.

Sahlins argumenta também que é uma lógica simbólica que organiza a procura, e não ao contrário como na economia formal. Para ilustrar isso dá o exemplo do consumo e produção de carne, porque razão comemos carne de vaca e porco e não de cavalos e cães? Faria o mesmo sentido económico comer cavalos e cães, e provavelmente seria mais eficiente, mas não o fazemos pois temos um sistema simbólico que coloca cavalos e cães mais próximos de humanos, e comê-los seria quase canibalístico, essa é apenas uma nocção cultural específica, em muitas culturas asiáticas é perfeitamente normal comer cães. Existe uma lógica cultural que organiza a procura.

Economia experimental e comportamental

Economia, antropologia, e psicologia convergiram recentemente com os campos de economia experimental e comportamental. A economia experimental testa as expectativas de racionalidade através do comportamento. Neste campo encontram-se por exemplo economistas como John Nash, Vernon Smith, Daniel Kahneman e outros.

Teoria de Jogo - Dilema do prisioneiro

O “dilema do prisioneiro” é um exempo clássico e experiência económica, que testa a suposição de Adam Smith, que agir para próprio interesse impulsiona a sociedade ou grupo. Neste jogo, dois criminosos são presos mas a polícia não tem provas suficientes para os condenar. Colocam-nos em salas separadas para interrogatório. O investigador oferece um proposta a cada um, se recusarem confessar ambos são acusados de um crime menor e cumprem 2 anos cada um, se não confessarem e cooperarem um com o outro cumprem menos pena; se confessarem e o cúmplice não confessar, se virarem as costas ao parceiro e confessarem, se desertarem e não cooperarem um com o outro, quem confessar é liberto e a outra pessoa vai presa 5 anos; ao contrário, se não confessarem mas o cúmplice confessar cumprem 5 anos de prisão e a outra pessoa sai livre; e finalmente se ambos confessarem cumprem ambos 4 anos de prisão. Simplificando, se ambos cooperarem um com o outro e não confessarem servem 2 anos cada um; se um confessar e o outro não este sai livre e o outro cumpre 5 anos; e se ambos confessarem ambos cumprem 4 anos.

É sempre do próprio interesse individual confessar, e isso significa desertar, não cooperar. Nesse caso cumprem sempre menos tempo em qualquer circunstância, a melhor solução individual é sempre desertar, não cooperar, confessar. Contudo a melhor solução para o grupo é cooperar um com o outro, não confessar, cumprem um total de 4 anos de prisão (2+2). Em qualquer das outras soluções ou cumprem 5 anos ou 8 anos. Colectivamente é melhor cooperar, mas individualmente é melhor não cooperar. Isto prova que o interesse próprio funciona contra o bem comum. Esta foi a grande descoberta de John Nash, que usou para mudar radicalmente a nocção de Adam Smith de interesse próprio.

http://en.wikipedia.org/wiki/Prisoner%27s_dilemma

Tragédia dos comuns

Outro exemplo hipotético é a “Tragédia dos comuns”. Existe um vila que tem uma pastagem comum, suficientemente grande para cada agregado familiar usar uma ovelha, sem degradarem a qualidade do solo. Mas os indivíduos podem pensar que ninguém vai notar mais uma ovelha extra, então colocam 2 ovelhas e aproveitam-se da boa vontade da vila. Mas se todos pensarem assim, se todos pensarem no seu próprio interesse a pastagem vai-se degradar e não vai ser mais capaz de alimentar ninguém.

http://en.wikipedia.org/wiki/Tragedy_of_the_commons

Jogo do ultimato

O “Jogo do ultimato” junta dois participantes desconhecidos. O jogador A recebe uma quantidade de dinheiro (x), e tem de oferecer uma percentagem desse ao jogador B. Se a oferta for aceite, o dinheiro é divido conforme oferecido, mas se a oferta for rejeitada nenhum dos jogadores recebe qualquer dinheiro.

Que percentagem iriam oferecer a uma pessoa desconhecida B? A escolha mais racional é oferecer a percentagem mais baixa possivel, pois vão maximar o lucro e se o Jogador B for racional aceita porque é melhor que nada. Mas na verdade, o jogador B sabe quanto dinheiro o jogador A tem. Na realidade a maioria das pessoas oferece 50% ou mais, mas isso parece irracional. Nas entrevistas os jogadores A justificam que parece mais justo oferecer metade, é dinheiro extra, e receiam que a outra pessoa recuse a oferta por menos de 50%, e na verdade essa é mesmo a realidade. As pessoas recusam ofertas de 1%, ou 2% ou 10 ou 20%. Mas porquê? Porque ofende o espírito de igualdade, porque razão a outra pessoa ficaria com 90% e ela 10%? Rejeitam a oferta e ninguém ganha nada, como se fosse uma licção ao jogador A de como deviam agir. O que o Jogador B faz é pagar 10% para punir a outra pessoa. Em termos económicos o que a pessoa recusa chama-se de custo de oportunidade, se rejeitarem 10% é como pagar 10%.

Estes jogos tocam na nocção de ideias ou modelos culturais de igualdade e justiça podem-se sobrepor à racionalidade económica pura. Nos estados unidos a média de oferta nos estudos são de 30%, e na Guatemala com o povo Maya é cerca de 51%, são ofertas hiper-generosas por haver uma nocção restrita de igualdade entre o povo. Em entrevistas os que ofereciam mais que 50 % diziam que a outra pessoa provavelmente precisava mais que eles, uma nocção de racionalidade económica bastante diferente. Isto mostra o contraste do real comportamento com o comportamento ideal esperado.

http://en.wikipedia.org/wiki/Ultimatum_game


Economia comportamental analisa comportamentos reais e não ideais; é bastante mais antropológico ao procurar desenvolver uma teoria apartir de comportamento observado. O conceito de racionalidade limitada é um tema central em economia comportamental, desenvolvido por **Daniel Kahneman**, analisando como o conhecimento, contexto e cognição afecta a racionalidade de uma pessoa.

Conhecimento completo é crucial para tomar decisões racionais, mas como **Joseph Stiglitz** e outros mostram, transacções reais económicas envolvem geralmente acesso de informação asimétrica. Economia comportamental e experimental pode-nos ajudar a explicar uma quantidade e anomalias racionais no nosso comportamento diário.

Richard Thaler, o economista que mais popularizou este campo de economia comportamental, tem uma grande colecção de ensaios chamado de “A maldição do vencedor”. Thaller analisa uma grande variedade destas anomalias económicas e tenta explicá-las em termos de concepções culturais de igualdade e justiça. Um aspecto que chamou de “status quo bias” , é a ideia que as pessoas não estão muito dispostas a correr riscos extra.

Para testar isso ofereceu duas alternativas a uma pessoa, imaginem-se na seguinte situação: são infectados por uma doença e o médico diz que tem uma vacina que a pode curar, ou caso contrário irão ter a probabilidade de 1/1000 de morrer em dor extrema da doença, quanto pagariam, quanto valeria? Agora outro cenário, quanto iriam aceitar para participar num estudo em que havia uma probabilidade de 1/1000 de morrer em dor extrema? Para a maioria das pessoas no segundo caso o valor seria muitas vezes mais que no primeiro caso, teriam de pagar bastante para que a pessoa corresse o risco extra, mas se já tivessem o risco pagariam pouco para aliviar o risco.

Thaler nota também a importância do conhecimento aproximado (informação que recentemente tomámos conhecimento) trás consigo um peso disporpocional no nosso processo de decisão que é geralmente irracional, ofusca a racionalidade. Deste modo, todos estes elementos culturais e comportamentais afectam a racionalidade. Seres humanos quando agem económicamente por vezes agem racionalmente, mas outras vezes não.

Investigações e trabalhos recentes de economia do desenvolvimento também se direccionaram para a antropologia.


Referências e sugestões de leitura:

Richard H. Thaler, The Winner’s Curse. Richard Wilk, Cultures and Economies. Michael Kearney, Reconceptualizing the Peasantry. Joseph E. Stiglitz, Globalization and Its Discontents.