Sociologia - explicando o desvio social I

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    • Explicando Desvio Social**

O tema de desvio social é um fenómeno social complexo e geralmente ambíguo, origina númerosas questões sobre as características geralmente arbritárias que podem ser usadas nesta ideia de desvio social. Existem teorias de desvio social **Absolutistas, Objectivas e Subjectivas** que são definidas e ilustradas com e por exemplos históricos e contemporâneos. Com base nessas teorias obtemos uma base para examinar como a religião, normas sociais, relações de poder e valores e crenças pessoais são muitas vezes usadas para determinar que características pessoais e comportamentos são rotolados como desviantes, e quais os indivíduos ou grupos ou comportamentos são sancionados em sociedades.

È difícil definir desvio social devido à sua inerente complexidade para determinar o que é correcto e bom. Deste modo temos de aprender a fazer as questões correctas, tais como:

1. Qual são os comportamentos aceitáveis numa sociedade? 2. Quem determina quais os comportamentos que devem ser censurados? 3. Que critérios são tidos em conta para o variado conjunto de comportamentos e características vistas como aceitáveis e inaceitáveis? 4. Será o Desvio definido pelo o que as pessoas fazem, acreditam, quem são ou pelas reacções da sociedade a essas características?

Mais em detalhe, **Sociólogos** tentam responder a questões específicas quando estudam o Desvio Social. Consideram porque razão a sociedade vê algumas pessoas e comportamentos como desviados; qual o possível racional em rotular um comportamento como desviado; quais as relações de poder entre os que são rotulados como desviados e os que determinam o que deve ser considerado como comportamento padrão aceitável. A sociologia considera também a influência histórica no modo como a sociedade define Desvio Social, como a cultura influencia o que é encarado como comportamento desviado, e como várias culturas se comparam na sua compreensão de desvio.

Uma distinção importante a fazer é entre **Criminalidade e Desvio Social**. A criminalidade é uma subdisciplina de Desvio Social, pois todos os comportamentos que são rotulados como desviados não são automáticamente rotulados criminosos. Desvio Social inclui quebrar regras formas e informais. Na sociedade moderna o comportamento criminal é relativo. Comportamentos criminais e não criminais são subjectivos e flexíveis.

    • Perspectivas de Desvio Social**
    • Absolutismo**

A perspectiva Absolutista sugere normas morais universais que são altamente influenciadas por crenças religiosas. Alguma diversidade em doutrinas religiosas tornam a perpectiva absolutista difícil de aplicar universalmente. Contudo Demonismo clássico ilustra esta perspectiva absolutista de desvio social através de uma divisão dualista do mundo entre o bem e mal. Isto significa que seguir as regras universais em que a sociedade se baseia é “bom”, mas pertubar o plano é “malvado” e uma afronta de desafio a deus e sociedade. Este dualismo é caracterizado por um elemento sobrenatural e sugere que há algo fundamentalmente errado com os que não seguem a ordem social.

    • Objectivismo**

Esta perspectiva é baseada na ideia que cada sociedade cria um conjunto de normas para prevenir o caos, e desvio social é a violação dessas normas. O processo de socialização serve para instruir os indivíduos para o que é considerado comportamento aceitável. Aprende-se as normas sociais ao testar os limites, e cada situação social nova apresenta novos limites. A implicação é que a definição de desvio como quebra das regras é demasiado simplista, pois as normas e regras estabelecidas numa sociedade são geralmente ambíguas, contraditórias e muitas são informais. Objectivismo depende de dados estatísticos de desvio social. Determinar uma Curva de Bell “normal” e desvio moral padrão é bastante subjectivo. Deste modo uma avaliação de desvio só pode ser aplicada após ser determinado o que desvio é na realidade.

    • Subjectivismo**

Na teoria subjectivista dá-se mais enfase às reacções sociais a um comportamento que tentar definir o desvio social em si. Aqui o desvio não existe isolado, os que têm poder ditam as normas, e quando as normas não são aplicadas consistentemente torna-se difícil rotular qualquer comportamento de desviado. Tenta-se compreender como a sociedade determina o que é desvio, e o que essas determinações ou critérios revelam sobre a própria sociedade.

É importante que os individuos examinem os seus ideais conscientes ou subconscientes sobre desvio social. Temos de compreender que rotular desvio serve apenas para categorizar, não para o explicar.

    • Referências e sugestões de leitura**:

Erich Goode, ed., Social Deviance Susan Caffrey, and Mundy, Gary, eds. The Sociology of Crime and Deviance: Selected Issues


    • Explicando o Desvio Social**
    • 1. Demonismo

2. Patologia 3. Desorganização Social 4. Funcionalismo e Anomia ( a sociedade como um todo) 5. Teoria de Aprendizagem (Behaviorismo) 6. Teoria de Controlo 7. Teoria de Rotulagem 8. Conflito e construtivismo**


    • 1. Demonismo Clássico**

Demonismo clássico ilustra esta perspectiva absolutista de desvio social através de uma divisão dualista do mundo entre o bem e mal. Isto significa que seguir as regras universais em que a sociedade se baseia é “bom”, mas pertubar o plano é “malvado” e uma afronta de desafio a deus e sociedade. Este dualismo é caracterizado por um elemento sobrenatural e sugere que há algo fundamentalmente errado com os que não seguem a ordem social.

Demonismo é assim uma parte integral da perspectiva absolutista. Baseia-se na nocção que existem regras universais que definem a moralidade, e o que é errado é absolutamente errado e isso não pode ser modificado. Demonismo clássico e moderno dividem o mundo no bem e mal, o mundo é visto como um campo de batalha. Os que seguem o “plano” são bons, e os que são contra o “plano” são maus, é uma luta. É uma ideia abstracta sobrenatural e fala-se como se fosse um entidade concreta. É dividido entre Deus e o Diabo, a luta do bem e do mal. Esta luta pode ser entre os deuses bons e maus, entre os antepassados e os feitiçeiros, ou a ideia “demonista” do budismo que ir contra o ciclo natural de nascimento e renascimento é errado e malvado.

Demonismo tem um contexto teológico e social. É dualista por natureza na forma clássica, e as razões de desvio são sobrenaturais. O Mal implica algo fundamentalmente errado e não algo que pode ser corrigido, actos malvados estão para além do controlo da pessoa. Demonismo clássico foi usado para dividir o mundo em categorias de bom e mal. Períodos Históricos como a Idade Média estão repletas de exemplos da tentativa da sociedade erradicar o mal. Tal como a Inquisição e as Cruzadas.

Punição pública servia para ajudar a sociedade a expelir o mal, e as confissões públicas reforçaram a necessidade de preservar a ordem social. Desvio é mais que um acto errado, é uma afronta que desafia a própria sociedade. A punição durante a inquisição era bastante brutal na tentativa de fazer o ofensor confessar e afirmar que o punidor estava correcto. Padres, cléricos eram cuidadosamente ensinados a punir como parte da sua função, iam a seminários para aprender a infligir a maior dor e tortura possivel. Haviam punições metafóricas, como por exemplo, a pessoas consideradas possuídas pelo diabo tinham de partir todos os ossos do corpo, do mais pequeno ao maior, isto porque o diabo agarrava-se aos ossos, e sendo assim o diabo não tinha mais onde se agarrar e tinha de sair do corpo. Outro subtexto dessa prática seria a ameaça que se alguém lhes desafiasse partiam os ossos todos do corpo. A desculpa do diábo tornava-se um modo de justificar essa forma de tratamento e exibir gráficamente o poder da igreja.

Uma das consequências históricas do demonismo foi autoridade ilimitada nas mãos da igreja centralizada. Autoridade podia ser praticada na ausência de um indíviduo. Centralização do poder leva sempre a abuso de poder.

    • 1.2 O Grande Inquisidor**
    • Fyodor Dostoyevsky** ilustrou este abuso de poder na sua obra “**Os irmãos Karamazov**”. Nessa obra existe um capítulo conhecido como “**O Grande Inquisidor”, e nesse capítulo apresentou, na minha opinião, a racionalização mais poderosa de abuso de poder de toda a literatura.

Podemos explorar um pouco desse “Grande Inquisidor” mas teremos uma ideia do abuso de poder que emergiu nesse período.

O capítulo começa com o retorno de Cristo. Cristo volta num período estranho para a Igreja Católica Romana – A Inquisição Espanhola quando o Inquisidor queima indivíduos na fogueira. As pessoas reconhecem Cristo, reconhecem a sua presença e compaixão, e pedem conselhos e sabedoria. O Grande Inquisidor então ordena que as suas tropas apreendam cristo. A multidão cai imediatamente na presença do poder do Inquisidor e abrem caminho para que cristo seja levado à sua cela. É então que para justificar as suas acções, o Grande Inquisidor apresenta um monólogo ao cristo silencioso, cristo nunca diz nada, apenas ouve a blasfémia do Inquisidor. O Inquisidor afirma que as pessoas não querem liberdade de escolha mas segurança, querem que lhes digam no que acreditar. A liberdade de consciência é um fardo do qual as pessoas tentam escapar, procuram venerar alguém a quem podem oferecer a sua liberdade. Fazer escolhas é enfrentar um mundo hostil sozinho e consequentemente procuram segurança ao se submergirem na multidão e afiliarem-se com alguém com grande poder.

O Inquisidor afirma que a Igreja proclamou infalibilidade e quem discordar nessa altura da inquisição é queimado! A maioria das pessoas aceitam e interiorizam essa exibição de poder fantástico, absoluto e arbitrário.

“Conquistámos a liberdade e tomámos posse dela, e fizémo-lo para tornar o homem mais feliz” diz o Inquisidor.

“Enquanto o Homem permancer livre ele luta incessantemente somente para encontrar o mais rápido possivel alguém para venerar. O homem é atormentado pela maior das ansiedades de encontrar alguém a quem possa rapidamente oferecer a dádiva de liberdade com a qual a criatura infeliz nasce.”

E então pergunta a cristo “Já esqueces-te que o homem prefere a morte do que a liberdade de escolha? Nada é mais sedutor que a liberdade de consciência mas ao mesmo tempo nada é maior tortura. E até saberem isso serão infelizes, ficarão próximos de nós e rastejarão, maravilhar-se-ão connosco, e orgulharem-se de sermos tão poderosos!”

Este é o tema que ficou conhecido como “Medo da liberdade” ou “**Fuga da liberdade**”, explorado por **Erich Fromm** e foi usado para justificar regimes totalitários durante o século 20, em especial o regime Nazi na Alemanha.

Esta visão sinistra da liberdade do Grande Inquisidor é justificada pelo conceito de natureza humana do Inquisidor. Para ele, o desejo de segurança e não liberdade é parte da natureza humana, e queremos segurança principalmente por sabermos que somos “fracos, pecadores, sem valor e rebeldes” nas palavras do Inquisidor, e sendo assim aclamamos um poder superior para tomar conta de nós. Ele define a natureza humana como “fraca e vil”.

O grande inquisidor justifica a racionalização para o abuso de poder em três formas, o poder económico, o poder psicológico, e o poder político.

1. O grande inquisidor acredita que os seres humanos por natureza procuram segurança económica, não liberdade, e que não se podem elevar acima da tentação do dinheiro e bens materiais para procurar bens superiores como a verdade ou sabedoria de Deus. Cristo por sua vez recusou essa tentação de comprometer a liberdade do Homem subornando-os com bens materiais.

2. O uso de milagres, mistério e autoridade para impressionar as pessoas à submissão serve como poder psicológico. O Grande Inquisitor afirma que são especialistas em criar esses momentos, rituais, episódios e experiências de milagres, mistério e autoridade, e as pessoas exigem tal segurança psicológica e reconforto. Cristo, contudo, quer que as pessoas o escolham de livre vontade e não por ser impressionadas por demonstrações da sua imortalidade. Isso, para o grande inquisidor, deixou as pessoas na dúvida e num estado de sofrimento constante, e a Igreja corrige esse erro.


3. O Inquisidor justifica o poder político afirmando que os seres humanos desejam submissão num estado universal que pode oferecer paz e segurança universal, a posse de todos os reinos do mundo.


    • 1.3 Demonismo moderno**

Este demonismo clássico é parte da sociedade contemporânea, e muitos acreditam que as forças Satânicas influenciam os jovens. Fala-se em casos de rituais satânicos, cultos, o abuso do Heavy Metal e muitos outros. Por vezes comunidades mobilizam-se para combater o satânismo.

Enquanto que demonismo clássico é uma explicação conveniente e categorização para crimes específicos, o demonismo moderno é mais secular e menos sobrenatural. O bem e o mal não são mais estritamente associados à religião, Deus não precisa estar presente no mundo para este ser dividido entre os que sabem o que é correcto e os que não sabem.

Demonismo clássico absolutista reemergiu como explicação para desvio social na sociedade moderna usada como um modo conveniente de explicar e categorizar mau comportamento. Demonismo moderno, embora mais secular que a forma clássica, continua a dividir o mundo em duas forças opostas, o que sabem o que é correcto e os que não sabem.

Demonismo moderno tal como demonismo clássico, é um sistema prático para identificar o inimigo. Todos possuem uma perspectiva demonista de uma certa forma, porque as pessoas naturalmente querem acreditar que há uma ordem para o mundo. Saber que algo é “mal” não ajuda as pessoas a criar respostas a problemas sociais ou as ajuda a aprenderem acerca dos processos sociais que criaram o mal.

De uma perspectiva sociológica, o demonismo é uma construção social que permite que certos grupos exerçam poder através de um rótulo que tem uma longa história. A sociedade usa desta forma o mal para diferenciar os que querem que sejam vistos como malvados e os que pretendem desculpar.

    • Referências e sugestões de leitura**:

Peter L. Berger, The Sacred Canopy: Elements of a Sociological Theory of Religion William S. Bainbridge, and Rodney Stark, Religion, Deviance and Social


    • 2. Patologia como Desvio Social**

A perspectiva patológica de desvio social é baseada na suposição que existem diferenças fundamentais entre os que são desviados e os que não são. Parte deste paradigma provém do pensamento científico dos séculos 19 e 20 marcados pela tentativa de explicar esta diferença através o estudo de hierarquia racial, hereditária, inteligência e genética. Uma das grandes falhas desta teoria é que embora desvio social deva ser empírico, é extremente moralista e descriminatória.

Enquanto que a teoria demonista vê o desvio como pecado, a teoria patológico vê como uma doença. Essa teoria ainda tem um sobretom moral, e tentava explicar o desvio social científicamente. O pensamento sobre comportamento criminal foi altamente influenciado pelo Darwinismo social que propõs que a progressão de mutações aleatórias e a sobrevivência do mais adpatado conduz a organismos mais complexos. Complexidade tornou-se sinónimo de melhores organismos e mais complexos e também mais morais. Cientistas aplicaram então esta ideia de progresso em grupos humanos.

Alguns cientistas acreditavam em **Craniometria**, que o tamanho do crânio estava relacionado com inteligência. Craneometria é a medida das características do crânio de modo a classificar as pessoas de acordo com raça, temperamento criminoso, inteligência, etc. Criavam hierarquias de tamanhos de crânio, haviam argumentos entre os Ingleses e os Franceses se John Locke ou Rousseau tinha o cérebro maior. Ou quando os Franceses descobriram que quando um dos seus melhores biólogos e cientistas morreu, tinha um cérebro pequeno e pensavam que o cérebro tinha encolhido nos seus últimos anos… No século 19, os Britânicos usaram a craniometria para justificar as políticas racistas contra os irlandeses e os Africanos, que consideravam raças inferiores. Os crânios irlandeses teriam a forma dos homens de Cro-Magnon e eram aparentados dos macacos, prova da sua inferioridade, tal como dos Africanos. No século 20, os Nazis usaram craniometria e antropometria para distinguir Ariano de não-Arianos.

Em 1876 **Cesare Lombroso** publicou uma obra entitulada "**Homem Criminoso**" onde utilizou a teoria de hierarquia racial para explicar o comportamento criminoso. O desvio social sai do domínio sobrenatural e é debatido cientifícamente. A pesquisa de Lombroso comparou variações intra-espécie com variações inter-espécie. A grande falha da abordagem de Lombroso foi que presupôs que os que estavam na base da pirâmide hierárquica racial tinham uma prédisposição para comportamento criminoso, e seleccionou apenas características específicas deixando outras de parte, o que influenciou directamente o movimento moderno da **Eugenia**.

Lombroso ao examinar o crânio de um criminoso infame italiano chamado “Calabrian brigand” Giuseppe Villella descobriu que esse tinha a chamada fosseta occipital média, curiosamente aquela fosseta a que se costumava chamar “a cova do ladrão”, onde os músculos do maxilar prendem. A fosseta era mais profunda que o normal. Lombroso sabia que os macacos também tinham essa característica, e foi daí que surgiu a sua inspiração.

“Não foi meramente uma ideia, mas uma revelação. Perante aquele crânio parecia que via repentinamente nele, iluminado como uma vasta superfície sob um céu ardente, o problema da natureza do criminoso - um ser Atavista que reproduz na sua pessoa os instintos ferozes da humanidade primitiva e dos animais inferiores. Era assim explicado anatómicamente os grandes maxilares, os ossos zigomáticos salientes, os arcos superciliares prominentes, as linhas solitárias nas palmas, o tamanho extremo das órbitas, as orelhas peculiares dos criminosos, selvagens e macacos, a insensibilidade à dor, visão extremamente atenta, tatoagens, preguiça extrema, amante de órgias, e o irresponsável desejo de pura maldade, o desejo de não só extinguir a vida da vítima, mas mutilar o cadáver, rasgar a sua pele e beber o seu sangue.” Lombroso (1874)

Hierarquia racial baseava-se na premissa que os brancos tinham passado por todas as raças no útero. Na hierarquia racia alguns cientistas acreditavam, outros não, que os brancos, os europeus eram o expoente máximo da civilização e que os Asiáticos vinham a seguir, também com uma civilização razóavel como na China, Japão, ficando a Raça Negra em último no que diz respeito a criarem uma civilização como a Asiática.

Sugeriram até que em toda a história humana, toda a cultura, tal como fisiologia indiviual podia ser explicada através deste processo de hierarquia racial. Alguns desses cientistas investigaram todos os grupos sociais conhecidos no mundo e criaram hierarquias gigantes, tais como a posição dos aborígenes australianos, os esquimós, os asiáticos, os nativos americanos, tribos africanas… Por vezes faziam conferências para debater isso, examinarem crânios que agora se podem encontrar em museus, cada um marcado com o grupo étnico.

A **Teoria da Recapitulação, Lei da recapitulação ontofilogenética**, mais conhecida pela expressão “**ontogenia recapitula a filogenia**”, era o processo que descrevia o desenvolvimento individual no útero que reflete os estados do desenvolvimento das espécies ao longo de um histórial evolucionário.

A ausência do processo evolucionário era considerado **Atavismo**, ou seja um revés evolucionário. Atavismo foi usado para explicar vários defeitos de nascimento e até relações sociais. É uma abordagem extremamente moralista, e que sugere que atavismo é malvado, sugere uma ideia de infecção hereditária, e que reprodução intraracial baixa o nível genético da raça.

A **Síndrome de Down**, antes conhecido como **Mongolismo**, foi usado como exemplo para este atraso do desenvolvimento. A síndrome é caracterizada por uma combinação de diferenças maiores e menores na estrutura corporal. Geralmente a síndrome de Down está associada a algumas dificuldades de habilidade cognitiva e desenvolvimento físico, assim como de aparência facial. A síndrome de Down é geralmente identificada no nascimento. Pessoas com síndrome de Down podem ter uma habilidade cognitiva abaixo da média, geralmente variando de retardo mental leve a moderado.

Daqui surgiu o movimento da **Eugenia** que advogava a preservação da pureza, pureza sexual e racial. Manuais desse época abordavam formas de evitar problemas hereditários, e todos esses textos alertavam contra a masturbação, sexo inadequado e mistura de raça.

Existem diversos problemas com a teoria patológica de desvio social. É extremamente determinista e sugere que há uma tendência inevitável devido a certas fisiologias para comportamento criminal, que a biologia determina comportamento. Esta teoria faz uso do Darwinismo Social que se baseia nas formas biológicas evolucionárias e as aplica em reforma social, ou engenharia social.

Surgiu também uma “teoria de infecção orgânica” ou infecção hereditária. Na altura ainda não se consideravam genes, era apenas hereditário. Todos os textos de Eugenia alertavam para masturbação e mistura de raças. Um texto de Henderson de 1901 sugeria que uma forma de travar o contágio de disgenia, isto é características genéticas negativas, era exterminar todos os que eram vistos como desviados. Eugenia tornou-se num movimento social, e centros de pesquisa para estudos eugénicos tornaram-se comuns. O movimento encorajou os mais adpatados a reproduzirem-se e os desadaptados a não reproduzirem.

Henderson sugeriu “colocar esses tipos criminosos deficiêntes em câmaras de gás apertadas e serem eliminados com gás venenoso” 1901

O ministro da educação pública pediu a **Alfred Binet** que desenvolvesse um teste que identificasse crianças com défice de aprendizagem. Não foi um teste para medir inteligência, mas foi assim que ficou conhecido. O próprio Binet alertou diversas vezes “O pior que pode acontecer é alguém usar este teste e usar para criar um tipo de hierarquia de inteligência com base nos dados. Estes números só podem ser usados para diferenciar os que têm inteligência média dos que precisam de educação e atenção especial.”

Rápido surgiu **Henry Goddard** que usou o teste da inteligência de Alfred Binet para dividir as pessoas em três grupos: atrasados, monótonos e inteligentes. Na categoria de atrasados ou retardados eram incluídos qualquer tipo de pessoa identificada com comportamento criminoso, como prostitutas, delinquentes juvenis e alcoólicos. Goddard acreditava que a sociedade devia impedir desfavorecidos de procriarem como também deviam ser expulsos do país.

Goddard foi à **Ilha de Ellis** fazer estudos. A Ilha de Ellis é uma ilha na foz do Rio Hudson que foi ao longo do século XIX e no começo do século XX a principal entrada de imigrantes nos Estados Unidos. A ilha, situada no porto de Nova Iorque, é um símbolo da imigração para os Estados Unidos. De 1892 a 1954, era o primeiro lugar que os imigrantes provenientes da Europa pisavam, após uma longa viagem em navios a vapor. Quase 12 milhões de pessoas chegaram a essa ilha à procura de uma oportunidade no novo mundo, a América.

Goddard ficou chocado com o que encontrou, encontrou pessoas “retardadas” de todas as nacionalidades a entrarem no país. Ele contratou duas mulheres para identificarem à vista a percentagem de retardados, ficavam a observar e marcavam numa folha a cruz dos retardados.

Determinaram que 83% dos judeus, 80% dos Húngaros, 79% dos italianos, e 80 % dos russos eram retardados, e que não deviam entrar no país.

    • Robert M. Yerkes** também utilizou o teste da Inteligência de Binet para identificar possíveis desertores do Exército. Todo este mau uso e aplicação do teste de Alfred Binet influenciou directamente a xenofobia durante esse período.

Teorias de hierarquia racial reemergiram no final do século 20.

A obra de **Charles Murray** “The bell curve” apresenta uma argumento moderno para hierarquia racial e inteligência.

    • J. Phillipe Rushton** propôs que para se compreender a Sida devemos compreender a hierarquia das três raças, ele divide as raças em três - os **Negróides, Caucasóides e Mongolóides**. Os Negróides incluem as raças negras, Caucasóides todas as raças brancas e Mongolóides todas as raças asiáticas. Na sua visão coloca os Mongolóides no topo.

Contudo haviam já vários argumentos entre antropólogos sobre as raças, se raças são categorias práticas, se raças são sequer identificáveis. Muitos antropólogos argumentam que não existem algo como raças, que é apenas uma construção humana, pois ao olharmos para as pessoas de vários locais não as podemos colocar numa dessas categorias, como por exemplo os Indianos, são os arianos originais (o termo ariano é indiano), mas no entanto têm uma cor escura e por vezes até mais escura que algumas raças negras. Existe também várias misturas de raças, e argumentos de onde pertençem os nativos. Antropólogos consideram que quanto mais observam e estudam diferentes regiões e populações, mais se torna evidente que “raças” é um termo subjectivo.

    • Phillipe Rushton** argumenta que evolucionáriamente os seres humanos passaram pela raça negra, depois pelos caucasianos e o por fim pelo grupo mais elevado: os mongolóides. E se olharmos à inteligência, quantidade de filhos, taxa de sexo pré-matrimonial, tamanho genital.. vemos uma hierarquia. Apesar de não dar referências dos estudos e quem investigou, afirma que os negros são os que têm mais filhos e não lhes dão atenção; os chineses têm poucos filhos e dão muita atenção; os negros têm genitais grandes, os brancos médios e os mongolóides pequenos; os negros começam a andar mais cedo, têm uma cabeça mais pequena…etc. O que Rushton queria demonstrar era que a SIDA está relacionada com hierarquia racial, e é por isso que os negros têm uma taxa mais elevada, seguido dos brancos e por fim os mongolóides. Contudo temos artigos que indicam que o maior aumento da taxa de Sida é nos países asiáticos, aumentou nos anos 90 e agora estabilizou.

Que podemos concluir daqui? Durante séculos os brancos estiveram sempre no topo, agora de repende estão no meio, e ficam os mongolóides no topo. Sociólogos questionam se isto reflete novas provas ciêntificas, e que de facto os mongolóides são a melhor raça da história humana? Ou será que reflete uma realidade geopolítica, onde os brancos eram a cultura geopolítica dominante e que agora a área de maior crescimento populacional é no Anel do Pacífico, onde Japão e países asiáticos tornaram-se mais poderosos, com uma economia expansionária, e será que não é isso que explica melhor essa reviravolta na hierarquia das raças bem mais que novas provas ciêntificas?

Estas teorias actuais de hierarquia social são obrigatórias para racismo moral e incluem as grandes falhas de qualquer teoria de hierarquia racial ou genética. Torna-se uma obrigação moral proteger-nos contra mistura de raças, e implica sempre a protecção de uma raça e a condenação de outra.

Como nota final, desvio social com patologia e demonismo combinados é do pior que podemos ter.

    • Referências e sugestões de leitura**:

James Q. Wilson and Richard Herrnstein, Crime and Human Nature Cesare Lombroso, Uomo Delinquente


    • 3. Desorganização Social**

A primeira teoria sociológica de desvio social surgiu da Universidade de Chicago nos anos 20. Isto devido ao rápido desenvolvimento das áreas urbanas desde o ínicio do século 20, e a queda do Darwinismo Social deixou novas questões a serem examinadas. A desorganização social, apesar de conter viés e lógica circular que basicamente tornou desvio social sinónimo de vida urbana, esta teoria estabeleceu pesquisa empírica como parte integral da sociologia. Foi também a primeira teoria a sugerir que os indíviduos são influenciados pela estrutura do mundo social onde vivem.

Por vezes, no pensamento, teórico novas questões emergem que a teoria precedente não pode responder, e sendo assim as novas teorias incorporam nova informação adicional à informação precedente. Ciência social até se estuda a si mesma para compreender porque razão as teorias em questão emergem em períodos específicos - isso é chamado de **Sociologia da Sociologia**.

Um esquema organizacional já foi mencionado, como dividir as teorias em **Absolutista, Objectivista e Subjectivista** para se melhor compreenderem as teorias. Cada uma dessa categorias têm um foco macro, micro e intermédio. Ao nível macro tenta-se explicar a sociedade como um todo; ao nível micro tenta-se explicar as influências sociais nos individuos; e no nível intermédio investiga-se estruturas sociais maiores que os indivíduos mas não tão grandes como toda a sociedade, podem visualizar isto como subculturas.

Esta abordagem de desorganização social é uma teoria intermédia porque apenas tenta explicar o desvio social em cidades. Os sociólogos nos anos 20 viam a cidade de Chicago como um laboratório social, e começaram a ir para a cidade para recolher dados para tentarem compreender porque razão as cidades eram tão desviadas. Essa pesquisa foi direcionada para as partes mais precárias da cidade, geralmente estudando os mais pobres.

As cidades tornaram-se num novo conceito pelos anos 20, e industrialização, emigração e migração em massa criaram extrema riqueza e também extrema pobreza. Nessa altura o ideal da existência humana era visto como pequenas cidades e estruturas rurais, e as cidades eram vistas com interesse, curiosidade e também com repulsão.

Há sempre um conjunto de ideias no espaço social que influenciam a vida humana, tais como ideais filosóficos, literários, artísticos. Devido a isso cientistas da sociologia dizem que a ciência cresce orgânicamente na sociedade onde é criada.

Antes da primeira guerra mundial havia uma ideologia de que a ciência nos ia levar a um novo mundo de progresso, escrevia-se em livros que as fábricas iam alimentar todos, não ia haver mais fome no mundo, e quando não houvesse fome não haveriam problemas políticos, a ciência ia resolver os nossos problemas. Entao veio a primeira guerra mundial, e a ciência foi usada para criar armas de destruição massiva, deu origem à maior perda de vidas humanas da história, e isso quebrou a ideia da ciência como progresso, a ideia de evolução social entre os sociólogos.

Na Europa, onde foi a guerra, surgiu a filosofia existencialista e desespero de **Jean Paul Sartre**, e nos Estados Unidos as pessoas viam a promessa científica como falhada porque não compreendiam bem o que a ciência era na verdade, e que a ciência era criada nas universidades e o que era preciso era ir para campo e explorar empíricamente, que a filosofia social já não funcionava. Desde modo a “Escola de Chigado” põe termo a uma longa história de filosofia social, filosofarem acerca da natureza do mundo social, e que era necessário ciência empírica.

    • Ferdinand Toennies** denominou a divisão da vida rural e vida na cidade com sobretons moralistas que sugeriam que o meio rural era bom e o urbano era mau.

De um lado a sociedade rural era uma estrutura baseada em tradição, um historial e valores partilhados. Uma estrutura de controlo informal baseada em sansão pública e vergonha tornou-se prática porque as pessoas se conheciam umas às outras. De outro lado na sociedade urbana as pessoas não se conheciam, não havia um historial partilhado e sendo assim não haviam valores e tradições em comum. O estatuto era baseado no estatuto alcançado pelo indíviduo. Uma estrutura de controlo formal baseada em leis e sansões institucionais foi necessária devido ao anonimato que tornou a humilhação e vergonha ineficazes.

As rápidas mudanças causam danos na organização social, e as cidades eram vistas como incapazes de assimilar ou partilhar valores. Em vez de consenso normativo havia um dissenso ou a incapacidade de concordar com as regras de comportamento aceitáveis. Não havia mobilização para solucionar problemas comuns. A desorganização social aumentava a taxa de desvio social, e nessa perspectiva, embora com falhas, ajudou a avançar o campo da sociologia. As anteriores teorias baseavam-se em religião e ciência, e nesse período ficou estabelecido um campo sociológico baseado em pesquisa empírica como parte da sociologia. Desde modo distanciou-se da visão de desvio individualista para uma visão que incluia a influência do ambiente.

Desorganização social ajuda no entanto a estudar países ou regiões que fazem uma transição de sociedade rural para indústrial. Podemos usar como primeira crítica que esta teoria nunca explicava o que constituia a desorganização social - havia uma lógica circular em que desvio social definia desorganização social e desorganização social definia desvio social, e isso reduziu os dois conceitos como sinónimos e nada foi explicado. Mais, apenas a classe baixa foi estudada, e apenas as piores partes da cidade foram examinadas. Probreza, desvio social, e desemprego foram usados para definir desorganização social. Uma forma de organização que era considerada diferente foi usada para definir desorganização.

    • Referências e sugestões de leitura**:

Joseph R. Gusfield, Symbolic Crusade: Status Politics and the American Temperance Movement James Gilligan, Violence: Our Deadly Epidemic and Its Causes