Explicando o desvio social II

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    • Explicando Desvio Social**
    • 4. Funcionalismo e Anomia ( a sociedade como um todo)

5. Teoria de Aprendizagem (Behaviorismo) 6. Teoria de Controlo 7. Teoria de Rotulagem 8. Conflito e construtivismo**

    • 4. Funcionalismo e Anomia**

A Sociedade pode ser compreendida como uma entidade, um universo, uma entidade colectiva onde vivemos, uma entidade de onde tudo o que nos torna humanos é derivado. Tudo o que pensamos sobre tempo, espaço, todos os aspectos psicológicos que nos tornam humanos, nós somos derivados da sociedade, somo como uma “tabula rasa”, uma folha em branco onde tudo da sociedade fica acumulado e é isso que nos cria como seres humanos. Tudo o que podem imaginar sobre a vida humana é derivado da sociedade, da cultura.

É o ponto de partida, nós nascemos já nela quer queiramos ou não, não temos escolha.

Mas porquê que uma sociedade se mantém unida, como criam solidariedade?

Desvio social é na verdade o aspecto mais importante que temos em qualquer sociedade. Podemos entender muito sobre uma cultura analisando o que aceita e não aceita.

Mas uma questão fundamental é o que é uma sociedade?

Temos de perceber o que estamos a falar, desvio existe numa sociedade, mas afinal o que é uma sociedade? A resposta não é assim tão fácil como podemos pensar. Por exemplo, uma sociedade não é necessariamente um sistema político partilhado. Podem ter duas sociedades diferentes num único sistema político que não se consideram na verdade parte da mesma estrutura. Podem ter grupos dentro da velha União Soviética que estavam sob liderança comunista mas que não se consideravam parte dessa sociedade. Podem ter um pedaço de terra, uma ilha nas Caraíbas e metade é do Haiti e outra metade é da Republica Dominicana, têm duas sociedades diferentes num pequeno pedaço de terra. Podem ter uma sociedade com a mesma língua, Estados Unidos, Inglaterra, Nova Zelândia, Austrália são diferentes sociedades que partilham a mesma língua. Ou podemos ter uma sociedade com diversas línguas como a Bélgica, eles consideram-se como uma sociedade, alguns falam francês e outros Flamengo, ou na Suíça onde há francês, suíço e alemão.

Então o que na verdade constitui uma sociedade? A melhor forma de a ver é como uma moral partilhada.

Toda a sociedade tem uma consciência colectiva, algo além de qualquer indivíduo ou grupo de indivíduos. Podem estudar indivíduos numa sociedade e nunca irão compreender como funciona como uma entidade. Isto é uma teoria Macro, começamos a ver a perspectiva completa da sociedade não através dos indivíduos que a constituem mas como uma entidade funcional. A consciência colectiva é a mente social, a forma como a sociedade se auto concebe, composta de todas as actividades de todos os indivíduos mas o que a caracteriza é uma moral, o modo como as coisas devem ser numa sociedade, o modo de comportamento normativo. Quando essa moral é violada sentimos um sentimento de revolta. Como pode isso acontecer?

Desvio social é crucial, porque é através dela que a consciência colectiva é definida, discutida, reconhecida, reafirmada, refutada. Desvio social força-nos a encarar as suposições da nossa moral partilhada e a debate-la. Entramos no domínio do Funcionalismo que sugere que a melhor forma de compreender como tudo funciona na sociedade é explorar a sua função.

Desvio social é absolutamente necessário para todas as sociedades, não podem ter uma sociedade sem ela, é impossível! Mesmo se tiverem uma sociedade de santos eles mesmo assim, dentro desse grupo, teriam de criar definições de desvio social, não o podem evitar. Isto porque desvio social serve uma função, tudo na sociedade que é universal e necessário serve uma função, e sendo assim é uma parte integral da sociedade, a sociedade não possui os recursos para manter o que não necessita, e se desvio social encontra-se em todo o lado tem de servir uma função.

    • 4.1 Funções do desvio social:**
    • Definir limites morais**

Primeiramente serve a função de definir as nossas fronteiras, os limites.

Vejamos, a sociedade é uma moral em comum, o que sentimos sobre tudo, a total constelação de fenómenos sociais, então temos limites morais, e esses limites estão constantemente a vibrar e pulsar porque estão constantemente a ser movidos e redefinidos, constantemente em debate, trazendo novas ideias, vemos diariamente nos jornais e televisão debates sobre tudo, as opiniões alteram-se. Um determinado conjunto de limites é o que define diferentes sociedades. Como determinamos esses limites é através do desvio social, não através do desvio em si mas através das nossas reacções ao desvio social.

Quem alguém age, quando alguém entra em acção temos de decidir se está correcto ou errado. Temos muitos meios informais de o fazer como reforçar a moral colectiva da família, ensinar os nossos filhos, e formas formais como tribunais onde a sociedade se reúne e decide se é ou não um limite moral. Na verdade as acções não são desviadas são apenas pessoas a agirem, nós decidimos se é desvio social ou não, decidimos se um limite foi ultrapassado.

Quando um indivíduo age e alveja alguém vai a tribunal, então perguntamos qual a razão? Eles juntam-se em tribunais e julgam-nos, mas e se alguém age e alveja alguém e usa a desculpa do abuso, uma vítima que foi abusada durante anos e anos e chegou ao limite e alvejou. Será isso aceitável? Aí está um modo de vibrar esses limites, em alguns casos podemos aceitar a desculpa do abuso, mas talvez alguém mais venha dizer que é ridículo, talvez não devemos aceitar isso e debatemos ainda mais. Talvez ao fim do dia obliteremos a desculpa do abuso. Um limite está a vibrar e a mover. Um grande limite como aborto é um limite moral principal porque não tem só a ver com o ser ou não legal, tem a ver com a concepção da vida, tem a ver com poder, tem a ver com qual dos espectros políticos irá manter poder sobre esse assunto, tem enormes implicações, o debate sobre aborto não se tornou poderoso apenas pois se trata sobre fetos mas sim porque se tornou numa representação de inúmeros debates políticos, acerta da natureza do país e quem ganhar esse debate será o porta-voz de grande parte dessa moral colectiva da sociedade.

Nós criamos as nossas barreiras morais através do desvio social e sendo assim desvio é necessário, pois se a definição é uma moral partilhada e se o desvio é o modo que determina essa moral só podemos ter sociedade se ela existir. Isto é o primeiro ponto crucial.

Um bom exemplo é o dos **Puritanos**. A história criou uma experiência para os sociólogos e uma das grandes experiências naturais foi a dos Puritanos que foram para um novo território para construir a sua sociedade, uma nova sociedade, mas tiveram três grandes crises com o desvio social. O terceiro e último é o mais conhecido, os julgamentos das Bruxas de Salém, o segundo que conhecem menos bem foi o incidente com o Quakers no Massachusetts onde decidiram que Quakerismo era heresia banindo assim os Quakers, mais tarde tornando-o num crime capital porque eles começaram a invadir em massa o local. Foi o primeiro caso de verdadeira desobediência civil nos Estados Unidos. No final a lei foi retirada e todos libertados.

Mas o primeiro caso é o que importa. o primeiro caso de uma mulher chamada Anne Hutchinson. Os Puritanos não tinham juízes, advogados ou políticos, tinha ministros, era uma comunidade religiosa. Aconteceu que essa Anne Hutchinson começou a pregar, começou a competir com aquele grupo pregando ela mesma e as pessoas começaram a aderir. Percebendo que algo estava errado os ministros não a podiam prender, não havia nenhuma regra contra o que ela estava a fazer, não tinham um conjunto de regras a não ser a bíblia, foram para lá para criar uma comunidade bíblica. Sabiam que algo estava a acontecer ali, tiveram de criar definições de desvio, criar um desses limites morais. Basicamente pegaram nela e entrevistaram-na até que dissesse algo que podiam chamar de blasfémia colocando-a assim numa das suas existentes categorias morais livrando-se assim dela. A questão na verdade é que era uma nova sociedade a lutar para criar um limite moral baseado nas suas necessidades, ou na necessidade entendida pelos Ministros de manter o poder.

    • 4.2 Solidariedade de grupo**

A segunda função do desvio social é criar uma solidariedade de grupo, uma funcionalidade de solidariedade de grupo. Oferece uma introdução para falar desses limites e negociá-los socialmente no contexto onde normalmente não o faríamos. Temos meios formais para negociar essas coisas, tribunais, legislatura, debates na imprensa, mas como membros da sociedade oferece uma oportunidade para formar uma solidariedade de grupo reforçando limites morais. Mas parte dessa funcionalidade de solidariedade de grupo é infelizmente criar um grupo interno e outro externo. Quero dizer, chamar os judeus de desviados na Alemanha Nazi e também os homossexuais, epilépticos e doentes mentais teve uma função de solidariedade de grupo para os Alemães “não-Judeus, não-gays, não-atrasados mentais e não-epilépticos”. Por vezes pode ser bastante perigoso, mas em todas as sociedades têm de o fazer, desvio social serve essa função.”

**4.3 Inovação**

Outra função que desvio social serve é a inovação!

Sociedades têm de encontrar meios de mudar, de crescer. Todos os grandes líderes da história ou foram presos ou vivam dentro de um grupo que os desejavam prender. Quando inovas na sociedade és quase por definição um desviado. Para um sociólogo falar de desvio social não é necessariamente algo mau, desvio social não é necessariamente um termo pejorativo. A grande mente criativa é também desviada! Nós somos inovadores, não se iludam, estamos a criar aqui algo.

    • 4.4 Anomia**

Depois temos a ideia de **Anomia de Durkheim**, que é muitas vezes traduzida como **Desnormalização**, mas também como desregulação e mesmo até como confusão normativa. Quando uma sociedade colapsa cria quase uma sensação de pânico mental de sofrimento, causa desregulação, o estado de estar desregulado, de mente perdida. Anomia é o que acontece quando esses limites morais se tornam tão desfocados ficando irreconhecíveis e colapsam. Quando os limites morais começam a ficar ambíguos a própria sociedade é desintegrada. Quando a sociedade colapsa é devido a uma regulação moral perdida, uma disciplina moral perdida, uma função moderativa perdida na sociedade. Anomia é um sentimento de sacrilégio social onde a sociedade tende a profanar limites. Novamente, Anomia é o colapso da moral partilhada por todos.

Mas há outra perspectiva de *Robert Merton* sobre Anomia. Há objectivos e meios e esses dois aspectos estão desfasados e é isso que cria desvio social de alguma forma. Merton tem o artigo mais citado em toda a sociologia. Merton vê a Anomia de forma diferente, para ele não é Desnormalização no sentido geral mas o que acontece quando as aspirações numa sociedade não são realizadas. A sociedade apresenta os objectivos da sociedade e os meios para alcançar esses objectivos, e depois as pessoas percebem que os meios não as levam lá. Noutras palavras ele acredita que a sociedade prega uma certa moral e não oferece os meios para a alcançar. A questão é essa!

Por exemplo se olharam bem para as mensagens percebem que a sociedade ensina a obter bens materiais. É isso! Riqueza material é o que é valorizado, premiado, riqueza material é o que te leva à televisão e dá prémios, o que é glorificado na imprensa. Toda a sociedade tem esse desejo e depois descobrimos que os meios oferecidos são por exemplo trabalhar no MacDonald’s. O que acontece é que há uma disparidade entre os meios e os objectivos e isso é Anomia para Merton!

    • 4.5 Estratégias de Anomia**

A primeira é o **Conformismo**, no conformismo aceitas o objectivo de querer riqueza e bens materiais e aceitas os meios oferecidos, emprego legítimo ou o que seja. O segundo meio é **Ritualismo**, aceitas as ideia que deves ser rico e percebes que não o serás, trabalhas todos os dias, fazes o teu trabalho e vais para casa, o trabalho torna-se numa actividade ritual, basicamente aceitas os meios e rejeitas o objectivo. A terceira estratégia de Anomia é a mais importante para nós, **Inovação**. E se aceitares o objectivo e rejeitares os meios? Nunca serás rico trabalhando no Macdonald’s mas poderás ser rico se venderes crack, ou começares a invadir domicílios, ou subornar alguém no trabalho, ou piratear um sistema computorizado e roubares alguma informação. Inovação é quando aceitas esse objectivo de ser rico e importante mas rejeitas os meios de emprego, é daqui que surge todo o elemento criminoso! Finalmente os dois últimos para mencionar brevemente, o *Abandono** e **Rebelião**. Em Abandono rejeitas os objectivos e meios e retiras-te da sociedade, tornas-te numa pessoa de rua, um toxicodependente, o que for, e na categoria final Rebelião rejeitas os objectivos e meios mas tens outro conjunto de objectivos e meios, compreendes que esta sociedade é corrupta, não aceitarás os empregos que oferecem, tens de revoltar, destronar a sociedade e colocar um melhor conjunto de objectivos e meios.

Mas há um mal entendido entre a ideia de Anomia de Merton e a ideia de Anomia de Durkheim, muitos pensam ser a mesma coisa mas na verdade são exactamente opostos! Para Merton Anomia causa desvio social, se os objectivos e meios estão desfasados és Anómico, alguém começa a inovar, para Durkheim desvio social previne Anomia, tens de ter desvio na sociedade para definir esses limites morais, é uma diferença fascinante, desvio social é algo bom! Para Merton quase se pode imaginar uma sociedade sem desvio social, quando acontece Anomia existe um aumento do desvio social, para Durkheim quando a moral colapsa o desvio vem para salvar a sociedade, através de uma função inovadora! Merton disse que anomia cria desvio, Durkheim disse que desvio previne anomia, é ainda um debate.

Anomia sugere que desvio social serve uma função na sociedade, a nossa reacção ao desvio serve uma função e sendo assim deve manter um nível de desvio.Mas esse nível de desvio pode ficar fora de controlo pode ser muito alto ou muito baixo. O que a sociedade faz é criar mecanismos para definir o desvio, aumentar ou diminuir, criar um nível básico de desvio, e como é feito é através da Normalização, eles normalizam o desvio social.

Os casos de gravidez adolescente há cinquenta anos atrás eram um estatuto desviado, e subitamente surgiu um enorme aumento em gravidez adolescente. Essa explosão de um estatuto desviado fez-nos redefinir gravidez adolescente como um estatuto não-desviado. Têm de o fazer porque precisamos manter o balanço de desvio que nos permite definir esses limites morais que falamos.

Desvio social deve manter-se constante, que é uma ferramenta útil mas que também diz que existem grandes perigos nela, se fica demasiado alta temos de normalizar para que a taxa possa decrescer novamente.

    • Referências:**

Robert Merton: Estrutura social e ciência , capítulo 12 Emile Durkheim, As formas elementares da vida religiosa Emile Durkheim, As regras do método Sociológico Kai T. Erickson, Puritanos: Estudo do desvio social Herbert J. gans, Pessoas, planos e políticas: Ensaios sobre probreza, racismo e outros problemas urbanos


    • 5. Teoria da Aprendizagem (Behaviorismo)**

Focando agora nos indivíduos da sociedade e como as suas vidas são influenciadas por muitos grupos diferentes e que têm muitas coisas diferentes para nos ensinar, entramos no domínio da aprendizagem.

Aprendemos da sociedade, nascemos nela e temos de viver nela. É um processo de desenvolvimento ou educação, o que os nossos pais nos ensinam originalmente, o que os nossos amigos nos ensinam enquanto crescemos, depois na escola os professores ensinam-nos. Aprendemos da televisão, da imprensa, aprendemos do sistema de educação. Aprendemos muitas coisas diferentes em locais diferentes, isto chamasse socialização.

E se os agentes sociais disponíveis não são o que consideramos ser ambiente social normal mas o que consideramos ser ambiente social desviado como gangs, traficantes de droga, toxicodependentes ou prostitutas? Existem subculturas de desvio toda a subcultura da droga tem a sua própria língua e ética, ambientes desviados têm as suas próprias atitudes, as próprias tecnologias, beepers, como protegem as costas de alguém…

Pessoas podem aprender isso, pessoas também podem aprender a tornarem-se desviadas algumas pessoas são socializadas em subculturas desviadas, outras em subculturas normativas. A compreensão fundamental é que não há diferença no processo fundamental de ser socializado para se tornar num accionista ou ser socializado para se tornar um traficante de droga. Ambas são um processo de técnicas aprendidas, atitudes, racionalizações, crenças, e um processo de como escapar dos problemas. Basicamente as pessoas aprendem a ser criminosas tal como aprendem a ser qualquer coisa na sociedade, não há diferença, é um processo fundamental de aprendizagem.

Um indivíduo isolado não decide simplesmente a ser desviado sem uma razão, mas na verdade o desvio social é organizado em subculturas de crime. Pessoas numa subcultura com muito desvio têm mais probabilidade em entrarem em contacto com essas pessoas e associar-se a elas. Alguns têm muito mais probabilidades de eventualmente adoptar esses comportamentos, e é feito através de um processo chamado **Associação Diferencial**, propondo que através da interacção os indivíduos aprendem valores, atitudes, técnicas, e motivos para comportamento criminoso. Existem sistemas de comportamento criminoso, grupos organizados que têm resistido durante séculos, perpetuam-se, como burlões, toxicodependentes, prostitutas, qualquer crime organizado, cada um tem uma longa tradição.

O que acontece num país homogéneo como o Japão ou Suécia? Eles não têm muita diferenciação e não têm taxa de crime elevada! Por outro lado num país com enormes possibilidades de subculturas de crime vão ter mais probabilidades de associar com criminosos, mas num país com inúmeras possibilidades de subculturas de crime vão ter mais probabilidades de associar a criminosos e sendo assim Associação diferencial pode explicar diferenças entre países e diferenças entre taxas de crime entre países.

Em tudo isto há apenas dois precursores para quem se vai tornar criminoso, dois aspectos que absolutamente têm uma forte relação com o incorporar comportamento criminoso, ser masculino e jovem! Os homens jovens cometem a maioria do crime, não é segredo que grande número de grupos criminosos é dirigido por homens. Estas diferentes subculturas, grupos étnicos, elas entram em conflito umas com as outras, confronto cultural é a principal causa de comportamento criminoso sistemático.

O que se passa na mente de um nessa altura é uma batalha entre as definições favoráveis ao comportamento criminoso e desfavoráveis ao comportamento criminoso, elas batalham na mente de um, embora não seja um processo consciente. Se viverem num ambiente de desvio social vês pessoas assustadas, escondidas nas suas casas, fechadas com as suas miseráveis vidas, e por outro lado vês esses gajos na rua que são grandes, grande parte dos gangsters exercitam-se, são impressionantes e têm dinheiro e armas e são poderosos. Nesta fase pesas as definições favoráveis a juntares-te a um gang sob as desfavoráveis, por vezes o lado positivo de ser membro gangster excede bastante o remorso de matar pessoas, ou roubar ou o que quer que faças.

Existem comportamentos criminosos que quebram leis formais para os quais temos sanções formai. Há desvio social não criminoso, agindo voluntariamente em modos que não são encarados como o normal mas ainda assim vistos como desviados embora não criminosos. Então temos desvio social criminoso voluntario e desvio social não criminoso voluntario e também há desvio social involuntário que se refere aos doentes mentais, alguém tratado pela sociedade como desviado, eles sentem que têm um estatuto desviado, algumas pessoas gozam, rejeitam e evitam. Por vezes pode ser complicado explica desvio social involuntário com a maioria das teorias de criminologia. É necessário aprender a definir o quando, quando uma situação é adequada a comportamento aberrante, o como, as técnicas, o porquê, os motivos, os incentivos, racionalizações. Desvio pode acontecer quando alguém é recompensado ao ponto em que as recompensas reforçam o comportamento criminoso, é como o Condicionamento Operante na Psicologia, ficas condicionado a responder ao desvio social. Existem sistemas de recompensa e punição com os quais tens de lidar.

Mas nem todos os criminosos associam com outros criminosos do mesmo género, um individuo isolado pode simplesmente tornar-se desviado sem contacto anterior com subculturas desviadas ou indivíduos em ambientes desviados. Por vezes é um erro concentrar tanto na associação de contacto físico. Podes ver um filme e identificar com o filme, não tens necessariamente de conhecer a pessoa, e isto é o domínio de Identificação Diferencial. Podes-te identificar com um filme, um livro de lês, uma história qualquer!

Também há o domínio de **Técnicas de Neutralização** onde fazem o balanço dos valores na mente. Essas técnicas de racionalização incluem **Negação de Responsabilidade** onde defendes que não tinhas intenção de desviar, podes usar a “desculpa do abuso”, negas a responsabilidade; **Negação de Injúria** onde defendes que não magoaste ninguém, que a vítima queria, por vezes violadores afirmam que as vítimas gostaram de cada minuto; na **Negação da Vítima** culpas a vítima; há também uma técnica chamada de **Condenação dos Condenadores**, prostitutas geralmente afirmam que não fazem nada de diferente que outras mulheres fazem, podem surgir com uma história sobre como uma mulher sai com um homem e ele paga o jantar, o cinema, e depois vai para casa e dorme com o homem, que apenas recebem o dinheiro em primeiro lugar e não devem ser condenadas, não são diferentes de ti, são simplesmente mais honestas, condenas o condenador e neutralizá-lo; e finalmente a técnica final **Apelar a Lealdades Superiores** como se o desviado agisse para proteger o gang, o grupo, és o protector.

Para este último há um exemplo de uma pessoa acusada de assassinar um médico que fazia abortos e que matou milhares de crianças, apelando a lealdades superiores como a comunidade, a lei, a lei de deus. Aqui a questão foca-se no facto que algumas pessoas não aceitam a responsabilidade das suas acções, têm de surgir com uma desculpa para justificar porque o fazem, adoptam longas explicações para justificarem que o que fazem está bem, são socializados nestas definições que são compatíveis com o seu comportamento quando, na verdade, no fundo não são, são incompatíveis..

    • Referências:**

Ronald L. Akers, Aprendizagem social e estrutura social: Uma teoria geral de crime e desvio Edwin H. Sutherland, O ladrão profissional: Anotado e interpretado por Edwin Hardin Sutherland


    • 6. Teoria do Controlo**

O mundo que existe lá fora, que tomamos por garantido, como as coisas são não é necessariamente como devem ser. Este mundo, como é criado implica certas regras e regulações, que para nos relacionarmos com outras pessoas tens de conformar com certos padrões de comportamento e tomam isso por garantido.

Mas porquê algumas pessoas não se conformam, porque algumas não seguem as regras da sociedade?

Ao longo de grande parte da Historia desvio social era considerado Demonismo, um desvio do que devia ser de acordo com uma doutrina religiosa tudo o que não se adequasse era desnatural e eles eram simplesmente queimados na fogueira presos a estacas, milhares e milhares acusados de estarem possuídos pelo demónio, quando na verdade estavam somente doentes mentais ou simplesmente forçados a desviarem-se, ou por muitas outras razões que hoje compreendemos.

A sociedade é como um Organismo Homeostático, tenta permanecer estável quando fica doente, quando o mundo social começa a decair existem mecanismos que o tentam manter estável. Na verdade algumas pessoas não são assim tão fáceis, não são assim tão dóceis, elas não aceitam o que a sociedade lhes diz muito facilmente, muito pelo contrário, as pessoas estão em constante desacordo com a sua sociedade, mas todos aceitamos racionalmente que precisamos dela e é importante manter alguma forma de ordem, mas no fundo estamos em descontentamento.

Um bebé, a criança é totalmente egocêntrica, não conhece mais nada, quer comer, quer calor, quer todas as necessidades básicas. Depois aparece o ego, o moderador, a mente racional para bloquear essas necessidades egocêntricas, e depois o superego entra também no jogo para racionalizar contigo. Todo o nosso desenvolvimento como indivíduos é um processo de renunciar desejo. Para que a sociedade se forme temos de fazer um massivo acto de auto renúncia, reprimes esses desejos básicos pelo benefício do colectivo, contudo nós estamos sempre descontentes com este compromisso, queremos sempre expressar aqueles desejos básicos.

Todos nós temos este potencial de desvio social, já não estamos a dizer que o desviando aprende a desviar da sociedade do mesmo modo que uma pessoa normal aprende a ser normal, estamos a dizer que é normal ser desviado e algo tem de acontecer no desenvolvimento para parar a expressão dos desejos desviantes, desvio acontece quando o desenvolvimento normal é bloqueado. Isto é a Teoria do Controlo, nós somos controlados a não o fazer, nós conformamos.

A maioria é conformista, como foi dito antes, as pessoas aceitam os objectivos e meios e lançam-se, elas conformam-se, ou conformam-se de outra maneira tornando-se ritualistas, mergulham em actividades sociais legitimas mesmo sabendo que de nada serve, ficam apenas a matar tempo e alimentando os outros. Conformam-se porque não querem desapontar pessoas, porque não querem ser punidos. Quando mais fracas forem as tuas ligações com a sociedade menos provável estás de ser restringida pelas regras da sociedade. Enquanto crescemos conectamos com a sociedade, somos ensinados a aceitar as regras normativas, conectamos emocionalmente com os nossos pais, com a nossa escola… o primeiro principal mecanismo de ligação é afeição. O seguindo é compromisso, o investimento, quanto maior a teu compromisso mais tens a perder. O terceiro é envolvimento, quando mais envolvido estás em actividades menos tempo tens para desviar, faz sentido. E também tens de crer nesses compromissos morais de ideias e normas convencionais, quando mais acreditares menos delinquente és.

Todos temos um desejo universal para desviar, retirem os controlos normativos e iremos todos desviar! Um bom exemplo disso é o livro “Senhor das Moscas”, onde um avião despenha-se numa ilha deserta e um grupo de rapazes defendem que têm de manter controlo normativo, que devem estabelecer alguma forma de governo, enquanto outro grupo defende que são livres, que não existe mais reforço de compromisso, envolvimento, conexão e crença, que não existem mais agentes sociais, então tornam-se loucos e selvagens. O livro culmina numa guerra entre os dois lados em que a lado selvagem ganha.

    • 6.1 Prisões, crime e punição**

Agora surge também a questão de punição, prisões, crime e punição, nós temos de punir comportamentos desviados. A maioria nem sequer sabe de onde surgiu esta ideia, vem da Idade da Razão, filósofos da Idade da Razão. Houve um grupo chamado Academia dos Punhos, eles criaram um sistema de pensamento baseado na razão para se libertarem a Idade Negra.

    • Cesare Marquis Beccaria**, que estava entre eles, escolheu a ideia de prisões, crime e punição e reformulou-o. Hoje tomamos essa ideia tão como garantida que nos esquecemos que uma vez era uma ideia inovadora. Beccaria disse que temos de criar padrões, determinação legislativa de lei e determinação judicial de culpa.

A legislatura decide o que é crime e qual a punição, e a única coisa que o sistema judicial faz é decidir se és culpado ou inocente. Se és culpado a legislatura decide qual é a punição. O necessário era um sistema de punição que causasse mais dor que prazer do acto, uma hierarquia de punição onde cada punição, a dor da punição fosse ligeiramente maior que o prazer do acto. Por todo o mundo pessoas criaram sistemas legais baseados nos princípios de Beccaria.

Contudo não haviam circunstâncias mitigadoras nos princípios de Beccaria e isso não funcionava, então eles criaram a Modificação Neoclássica em França onde incluíram três circunstâncias mitigadoras a ter em conta. Uma era Doença Mental, se és doente mental não podes calcular racionalmente, a segunda foi Premeditação e a última Calor e Humidade, se está calor e húmido isso torna-te mais irritável, lembrem-se que foi antes de haver ar condicionado.

A ideia original de Beccaria era não ser arbitrário como antes e criar uma forma sistemática de punição. Ele foi tão influente como Darwin ou Einstein e as pessoas nem o conhecem. O que surgiu daqui foi uma centralização de punição como aprisionamento, e uma escala crescente de dor adicionando mais um dia, ou uma semana ou um mês de aprisionamento. Surge aqui a ideia que punição previne desvio social, que calculamos o nosso caminho para o desvio e alguma forma de punição é o necessário para nos travar. Punições de algum género combinadas com mecanismos de conexão com a sociedade são o que podem travar o desvio, mas lembrem-se que isto é supondo que todos são inerentemente motivados para desviar.

Então de onde emergiu a sociedade?

Os humanos não calcularam a sociedade, evoluíram em sociedade, para que duas pessoas se possam juntar e começar a debater uma estrutura política já tens de ter uma língua comum, um conjunto de ideias e experiências comuns, uma moral partilhada, então a civilização não foi um acto consciente, então de onde surgiu?

Foi algo onde crescemos organicamente, na nossa própria natureza, talvez haja uma predisposição genética para viver em sociedade, temos de crescer já em sociedade, já a cooperar. O facto que seres humanos por todo o mundo vivem em sociedade deve sugerir que somos fundamentalmente motivados a cooperar e viver em sociedade, que desvio é uma parte dela mas não a parte mais fundamental, que cooperação precede ao desvio, que temos uma tendência nata para conformar.

Para já a teoria do controlo foca primariamente no crime de classe baixo e desvio voluntário. Temos estado a discutir a razão pela qual o desviado se desvia e a importância como função, uma técnica de aprendizagem, uma predisposição nata em alguns casos.

    • Referências:**

William Golding, Senhor das Moscas Akers, Ronald L. Comportamento Desviado: Abordagem de aprendizagem social


    • 7. Teoria de Rotulagem**

Uma questão melhor poderá estar relacionada com o facto que pessoas agem, comportam-se, elas fazem o que fazem e isso não tem de ser explicado, indo mais à base da questão é explicar porque a ideia de roubar ou assassinar é aberrante, porque razão a sociedade cria categorias onde alguns actos são desviados e outros não? Podemos livrar de todo desvio amanhã, todo, todo o desvio criminal, basta apenas tornar tudo legal e deixa de existir mais crime.

Sendo um pouco mais radicais, vamos olhar para o mundo de forma diferente e colocar questões diferentes, vamos sugerir que desvio social como pensamos não existe. Que o desviado na verdade nada faz que o torne desviado, que a sociedade cria categorias de desvio e aplica-as às pessoas que estão simplesmente a agir no mundo.

A questão não é porque razão o desviado se desvia mas o que faz a sociedade entender as acções de uma pessoa como desviadas?

Supondo um caso dum homem que se encontrava numa esquina durante muito tempo, com um fato de três peças e uma mala, e um polícia apareceu e perguntou se tudo estava bem. O homem disse que aguardava um amigo e o polícia deixou-o ali ficar. Depois mais tarde um sem abrigo ficou no mesmo local com o mesmo comportamento e o polícia disse para se ir embora! O polícia filtra essa informação que vê, um homem num fato de três peças, obviamente empregado, aparenta ter um bom emprego e poder social, e deixa-o ficar ali. Quanto ao sem abrigo azar, que vá dar uma volta! O comportamento é o mesmo mas a interpretação diferente. O polícia filtra a informação social através de uma base conceptual que tem sobre a natureza do mundo social e age em relação a isso. De onde surge esse comportamento? Pode ser da sua própria descriminação, descriminação contra as minorias ou classe baixa, ou como a própria sociedade relaciona as classes e raças.

Desvio só pode ser agora compreendido nos termos em que a sociedade reage ao comportamento, nenhum comportamento é desviado, nenhum acto de indivíduo é desviado. Desvio tem de ter uma reacção, que sentido há em ser desviado se ninguém sabe? Somente se ele próprio se rotular como desviado. O processo de desvio social começa quando o processo de rotular alguém de desviado começa.

O processo de rotular é uma interacção dinâmica social, o processo pelo qual comportamentos são rotulados e descategorizados. O facto de uma pessoa cometer um crime ou não é agora irrelevante, eles são desviados no sentido em que a sociedade acaba de atribuir um rótulo desviado e o trata como desviado. Talvez ele nem o fez mas é tratado como um assassino, a sociedade criou um papel de assassino para essa pessoa quer o tenha feito ou não. Quando ficas com esse rótulo em ti é irrelevante se o fizeste ou não, a sociedade toma a decisão.

Ou és um conformado ou um desviado, e ou o fizeste ou não o fizeste. Se nada fizeste e a sociedade pensa que não fizeste és um conformador. Vendo extremo oposto, cometes e a sociedade pensa que sim, isto é desvio social puro! Mas podes pensar em mais duas categorias, podes ser falsamente acusado, nada fizeste e a sociedade pensa que sim, és um falso desviado mas isso não interessa porque a falando socialmente não és diferente de um verdadeiro criminoso, a única diferença existe apenas na tua cabeça! E se fizemos algo e ninguém pensar que sim? Isso é desvio social secreto!

Como o fumar, talvez tenhas fumado durante 40 anos e agora não és desviado. E se à meia-noite uma legislatura qualquer antitabagismo é aplicada, depois da meia-noite és criminoso! O que acontece é inexistência de comportamento errado, a sociedade mudou à tua volta, as definições da sociedade criaram desvio social. Indivíduos comportam-se e a sociedade interpreta, e isso é verdade sobre o falar de tabaco ou como de assassinar pessoas. Agora já se pode também entender aquela terceira categoria de desvio social o desvio involuntário social, tal como desvio voluntario criminoso e desvio involuntário criminoso.

Ao longo da História tem havido categorias para colocar comportamentos que não compreendemos, tal como bruxaria ou demonismo, isso são categorias residuais. Por outro lado, em algumas sociedades, o que é agora chamado de doença mental era considerado inspiração de deus, o que profetas na bíblia viram nas suas visões e profetizaram nós iríamos hoje provavelmente chamar de um ataque epiléptico, uma interpretação médica pejorativa do que eles interpretavam como uma dádiva de deus, divino. O comportamento é o mesmo mas a interpretação diferente. Na nossa sociedade, geralmente “medicalisamos” desvio social, alterámos os rótulos de desvio. Por vezes o que é um rótulo legal redefine-se como um rótulo médico.

O processo de compreender desvio social tem de ser um processo de compreender como uma particular sociedade num particular ponto no tempo lidou com os seus desviados e como selectivamente aplicaram os rótulos, pois aplicar selectivamente rótulos está relacionado com poderes sociais e relacionamentos. O poder de rotular alguém pode-te convencer que tens um problema que não tens, usando um método agressivo de rótulo para convencer alguém a submeter-se a um rótulo com o qual podem não acreditar, que senão aceitares esses rótulo de comportamento eles afastam-se, talvez no caso de tentarem convencer que tens uma doença mental, ou algum problema que não queiras admitir. Recordam-se daquele primeiro passo para a cura em que têm de admitir a existência de um problema? Eles podem ameaçar retirarem-se e deixarem-te sozinho se não o fizeres.

Somos agora muito bons ao focar as reacções da sociedade ao desvio social e a dinâmica da sua formação, mas falar de um assassino em série, que seria desviado em todas as culturas, e dizer que tem só a ver com rótulos provavelmente não será tão eficaz. Desvio social pode ser o processo em que uma pessoa é rotulada pelos poderosos, mas outro aspecto é que uma pessoa sem poder pode tornar-se poderosa apenas por rotular-se como desviada e desafiar as autoridades e os seus rótulos e tentar mudar a sociedade, porque ser rotulado também pode ser um acto poderoso.

    • Referências:**

Howard S. Becker, The Outsiders Erving Goffman, Asylums: Ensaios na estrutura social dos pacientes mentais e outros reclusos Thomas Szasz, O fabrico da insanidade


    • 8. Conflito e Construtivismo**
O que parece caracterizar a dinâmica da vida social é um conjunto de interesses competitivos, ou conflito, toda a vida social é na realidade derivada de conflito. No nível macro grandes grupos de pessoas competem por recursos e no nível micro indivíduos individualmente competem em conversações, debates, discussões. Pessoas cooperam, elas têm conflito, tu negoceias-te de uma forma em que os teus interesses temporariamente coincidem com os da sociedade, e quando deixam de coincidir o conflito reemerge.

No **Demonismo** temos o conflito entre o bem e o mal, em **Patologia** o conflito entre a pessoa normal e os doentes, em **Desorganização Social** temos as áreas desorganizadas e o resto da sociedade, na **Anomia de Merton** o conflito entre os objectivos e os meios e entre os que conformam e inovam. O processo da dinâmica de conflito é o que agora interessa.

A vida social atravessa estados e nisso há competição sob os recursos, têm os que têm poder sob recursos e acesso a recursos e os que não o têm, os donos dos meios de produção e os que não têm nada mais a oferecer a não ser o seu trabalho físico para vender no mercado. Isto é a relação entre o poder e significado, O grupo que comanda os meios de produção tem acesso a todos os meios de comunicação através da imprensa, leis e sistema educativo. Quem comanda a imprensa, quem faz as leis e quem controla o sistema educacional? Os ricos, a classe alta, eles usam e abusam do trabalho árduo dos que apenas têm o trabalho físico a oferecer produzindo riqueza para esses, a classe grande o faz, o proletariado.

O papel da classe alta, dos ricos, é manter as coisas como elas são e manter o proletariado ignorante do facto que são explorados, esta é a sua consciência de classe. O Proletariado, este grupo maior, a classe baixa tem o potencial de se elevar, que deveria ser a sua consciência de classe, mas não é pois os ricos criam um sentido de falsa consciência na classe baixa através da perpetuação de ideologia dominante, basicamente culpando e dizendo que são pobres porque merecem ser pobres, se não são ricos é porque não trabalharam o suficiente. Na Índia há o sistema de castas, nasces intocável e permaneces intocável e se fores um intocável muito bom na próxima vida renascerás numa casta mais alta. É um método bastante eficaz para manter as pessoas nas suas classes e evitar que se elevem.

Os ricos têm controlo desproporcional da imprensa, controlo desproporcional do sistema educativo e acesso desproporcional à legislatura.

Controlo desproporcional de informação é bastante perigoso, pode conduzir a **Disfunção Narcotizante**, uma consequência da imprensa em massa. Enquanto as noticias sobre um tema inundam as pessoas elas tornam-se apáticas a isso, substituindo o estarem informadas sobre o problema com o agir para o resolver, eles formam uma massa social que é politicamente apática e inerte. Números crescentes de pessoas dentro da nossa sociedade devotam mais e mais do seu tempo à imprensa. A audiência torna-se apática e demonstra apenas preocupação superficial pelos problemas da sociedade enquanto o constante fluxo de informação e notícias tem um efeito narcotizante em vez de um efeito energético. Enquanto a sociedade gasta mais tempo com a Imprensa, e especialmente com televisão, há igualmente menos tempo para a sociedade agir contra os problemas identificados na Imprensa. É o mesmo método, quando menos tempo tens para associar com desvios sociais menos probabilidades tens de o fazer. O indivíduo é assaltado com informação de problemas mas a sociedade confundiu o saber sobre um problema com o agir e fazer algo para o remediar, estar informado e preocupado não é um substituto de acção. Devido aos efeitos da Imprensa em massa, pessoas acreditam que nada fazer é bom para a sociedade. É por isso que o efeito é chamado de Disfunção Narcotizante.

Este conflito entre as classes tem sido a dinâmica mais importante da história humana. No capitalismo há o conceito do Mercado, o que é isso? Não existe, é um ideia abstracta de milhões de pessoas a comprarem e venderem e fazendo negócio. Se és pobre os ricos culpam o Mercado, mas tens de perceber que eles controlam o Mercado, é feito primeiramente das suas actividades, eles não precisam de te dominar fisicamente como na escravatura ou dominar a terra onde trabalhas. A Classe Alta rotula a Classe Baixa de preguiçosos e desviados.

Porque razão o nosso Departamento Policial dedica tanto tempo a perseguir crime da classe baixa que da classe alta?

O crime do colarinho branco causas dez vezes mais vítimas e mortes que o crime de rua! Pensem em violações de segurança e administração de saúde que mata mais que crime de rua. A ideologia dominante focou a nossa atenção primeiramente no crime da classe baixa, tem tudo a ver como a manipulação do controlo e significado da sociedade baseado em ideias e imagens.

Existem muitos problemas sociais, mas definir um problema social não é assim tão simples. A verdade é que um problema social é o que as pessoas afirmam ser um problema social, e apenas um porcento das pessoas, um! Quando alguém começa a falar de um problema é o início do problema social, e como na rotulagem não interessa se existe ou não. Pode haver um problema social na ausência do problema, recordam-se do caso da locução da “Guerra dos Mundos” a ser transmitida na rádio?” Pessoas começaram a saltar das janelas porque pensavam que os Marcianos estavam a atacar. Não havia Marcianos.

Podemos ter um problema social na ausência de realidade objectiva! A questão é que não podem definir um problema social através de critérios objectivos ou opinião pública mas definem-no como um processo de alegações.

    • Michel Foucault**, um filósofo francês, escreveu um livro intitulado “Arqueologia do Saber”, tem a ver com pegar num conhecimento e desconstrui-lo e ver o que está por trás dele, uma investigação arqueológica desconstruindo a própria natureza do conceito.

Por exemplo, o termo “abuso de menores” não existia até o terem criado, pessoas podiam espancar as crianças até à morte mas não havia abuso de menores. No século XVII espancavas a tua criança mas não eras um abusador de menores, esse conceito ainda não existia. No nosso mundo moderno conectamos abuso de menores com referências como doença mental, linhas de apoio de abuso de menores, sindroma de abuso de menores, grupos de apoio, terapia, e nenhum desses existia à volta do acto de bater em crianças.

De onde surgiu o abuso de menores, quem criou a ideia?

Um grupo de pesquisadores radiologistas. Porquê eles? Não foram os pediatras que observavam que as crianças eram espancadas porque há um conflito de interesse, o paciente e o cliente são duas pessoas diferentes, o paciente é a criança mas o cliente é o pai ou a mãe, são eles que pagam a conta e decidem se voltam ou não. Nem foram os radiologistas clínicos que descobriam isso por estarem ligados aos pediatras e não querendo perder o negócio. Tinha de ser alguém separado dos pediatras e dos radiologistas clínicos, eles tinham um conflito de interesse porque os pais pagam a conta e decidem se voltam ou não. Os estudantes de radiologia criaram o abuso de menores porque era um grupo de pessoas a perseguir os seus próprios interesses, encontraram um meio de criar uma nova categoria de desvio social para lhes dar poder. Isto é a relação entre o poder e a criação de desvio social. Podemos ver o mesmo em quase todas as formas de desvio social e executar este tipo de desconstrução da ideia.

Estamos agora a interpretar o mundo como um texto e a ler a vida social e interpretando usando as mesmas ferramentas que críticos literários usam para interpretar texto, mas não só como texto, também usando relações entre imagens e texto. Podemos desconstruir uma imagem de algo, imagens representam relações de poder, histórias de poderes relacionados. E isto é bom para nós, vejam, não têm de criar arte original, podem manipular poderes de imagem, usem apenas uma imagem de uma mulher bonita e adicionem palavras, não tem só a ver com a imagem de uma mulher bonita, representa toda a história da beleza feminina e o que tinham a oferecer à sociedade, e homens a explorarem a beleza da mulher, Playboy e anúncios onde mulheres aparecem e homens não, como as mulheres aparecem nuas em filmes e homens não, como os homens têm o direito de olhar e fitar as mulheres, o poder sob as mulheres através do olhar fixo. Ao pegar apenas um texto com um certo conjunto de implicações e uma imagem com um certo conjunto de implicações e juntar essas implicações, arte é o resultado.

Estamos agora a olhar para o desvio social com matéria de relações de poder históricas, vendo os interesses e alegações e como isso é representado em termos e imagens. Entrámos agora na era da informação, começando a usar imagens e texto para organizar toda a sociedade.

    • Referências:**

Patricia A. Adler, e Peter Adler, Construções de Desvio social: Poder social, contexto e interacção Stephen J. Pfohl, Imagens de desvio e controle social: História Sociológica Nancy A. Heitzeg, Deviance Rulemaker and Rulebreakes Karl Marx, Karl Marx Selected Writings In Sociology and Social Philosophy

    • Nota:**

Aqui no Desvio Social, não é apenas uma teoria que explica tudo, mas um conjunto delas, cada um no seu domínio, e pela ordem que estão são teorias que se completam umas às outras progressivamente. Não se pode apenas focar numa teoria ou perspectiva para explicar um desvio social. Uma teoria pode ser suficiente para explicar um determinado desvio social, mas para outro tipo de desvio ser insuficiente ou não se aplicar, recorrendo a outras. Temos de saber aplicar estes conhecimentos nos diferentes domínios existentes, caso contrário podemos usar um argumento que não se aplica a um determinado problema.

    • Lista geral de Referências e Sugestões de leitura**

Robert Merton: Estrutura social e ciência , capítulo 12 Emile Durkheim, As formas elementares da vida religiosa Emile Durkheim, As regras do método Sociológico Kai T. Erickson, Puritanos: Estudo do desvio social Herbert J. gans, Pessoas, planos e políticas: Ensaios sobre probreza, racismo e outros problemas urbanos Ronald L. Akers, Aprendizagem social e estrutura social: Uma teoria geral de crime e desvio Edwin H. Sutherland, O ladrão profissional: Anotado e interpretado por Edwin Hardin Sutherland William Golding, Senhor das Moscas Akers, Ronald L. Comportamento Desviado: Abordagem de aprendizagem social Howard S. Becker, The Outsiders Erving Goffman, Asylums: Ensaios na estrutura social dos pacientes mentais e outros reclusos Thomas Szasz, O fabrico da insanidade Patricia A. Adler, e Peter Adler, Construções de Desvio social: Poder social, contexto e interacção Stephen J. Pfohl, Imagens de desvio e controle social: História Sociológica Nancy A. Heitzeg, Deviance Rulemaker and Rulebreakes Karl Marx, Karl Marx Selected Writings In Sociology and Social Philosophy