De onde vem o dinheiro

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De onde vem o dinheiro?

“De onde vem o dinheiro?” é a questão que todos deveriam perguntar, especialmente num período de crise económica. A resposta pode parecer surpreendente e insólita. O processo de criação de dinheiro é, em si, simples e directo.

O dinheiro governa as nossas vidas. É o “sangue” de qualquer economia monetária e influencia amplamente o funcionamento das sociedades modernas. Apesar disto, a resposta à pergunta inicial não é dada nas escolas, nos meios de comunicação social ou por qualquer instituição estabelecida. A confusão e complexidade associadas à economia e às finanças levam o público a distanciar-se destes assuntos, que permanecem incompreendidos e alienados pela maioria.

“O estudo do dinheiro (…) é aquele em que a complexidade é usada para disfarçar e iludir a verdade, não para revelá-la.” John Kenneth Galbraith (Professor de economia em Harvard na sua obra” Money: Whence it came, where it went’ (1975).”(1)


O dinheiro vem…

…de empresas privadas (ou públicas) às quais chamamos “bancos”. Bancos centrais e bancos comerciais. O economista português José Castro Caldas colocou a questão da seguinte maneira:

(…) o dinheiro é criado regularmente pelos bancos cada vez que um empréstimo é feito. O dinheiro é criado pelo BCE (Banco Central Europeu) cada vez que empresta a juros baixíssimos aos bancos para depois eles emprestarem a juros mais altos. O dinheiro é criado.” - José Castro Caldas (economista)

Em 2009 foi editado um livro escrito por economistas portugueses que se intitula “Política Monetária e Mercados Financeiros”. O primeiro capítulo da obra trata “O processo de criação de moeda” e na página 46 os autores dizem-nos que: “A concessão de crédito por um banco cria nova moeda na economia”. Leia-se aqui “Banco Comercial”. De seguida explicam-nos como os bancos fabricam dinheiro a partir do nada cada vez que concedem crédito:

“Suponha-se que um banco A concede crédito a uma família no valor de 100 000€. (…) Isto é, o banco A credita a conta de depósito à ordem da família no montante de 100 000€ (algum funcionário do banco A altera os números que estão registados informaticamente na conta à ordem da família, somando 100 000€ ao valor que lá se encontrava anteriormente). Isto significa que, como resultado desta operação de crédito, passam a existir na economia mais 100 000€ de depósitos à ordem. Uma vez que os depósitos à ordem fazem parte da massa monetária, a operação de crédito fez aumentar o stock de moeda na economia.” -“Política Monetária e Mercados Financeiros

Vimos, então, que uma grande parte do dinheiro em circulação é criado pelos bancos comerciais que o emprestam a famílias e empresas. O que significa que este dinheiro é dívida para com os bancos, uma vez que é criado através de empréstimos.

Destacamos o facto de a maior parte do dinheiro que existe hoje ser “digital”, ou seja, só existe na forma de números em computadores (numerário). Este surge de operações de concessão de crédito por bancos comerciais como a descrita acima. O dinheiro físico é produzido pelo Banco Central.

“O Banco Central tem poder para criar notas e moedas físicas, sendo, aliás, a única instituição que tem este poder. As OIFM, também designadas por bancos de 2ª ordem, têm poder para criar depósitos.” - “Política Monetária e Mercados Financeiros” página 30

Importa também saber que quando os empréstimos são pagos ao banco, o dinheiro é destruído. O dinheiro é criado, circula pela economia e é destruído quando o empréstimo é pago. O banco ganha os juros para si.

Ao contrário do que se pensa e como já explicámos, os bancos não emprestam somente o dinheiro que as pessoas lá depositam. A quantidade de dinheiro que determinado banco pode criar e emprestar não tem, legalmente, limites (isto na Zona Euro) - Referencia. Isto explica o porquê dos Bancos enriquecerem desmesuradamente. Pagam juros baixos aos depositantes e cobram juros altos sobre os empréstimos que fizeram com dinheiro criado.

Os bancos não possuem mais do que uma fracção mínima dos depósitos em dinheiro líquido, disponível a ser levantado. Esta “reserva” é determinada por lei e, de acordo com documentos oficiais do BCE (referencia), é de 2% para algumas aplicações (depósitos) e de 0% para outras (estas últimas, com prazos superiores a 2 anos). É por isto que se uma quantidade elevada de pessoas decidir retirar o seu dinheiro do banco, só algumas vão conseguir fazê-lo (as primeiras a chegar). A “corrida ao banco” é um dos fenómenos mais temidos pelos banqueiros pois colocam rapidamente a sua instituição num estado de falta de liquidez e crise de confiança. Estas crises de confiança (entre outras razões) levaram à criação de Bancos Centrais.

Para entender a importância da concessão de crédito pelos bancos à economia considere o seguinte excerto:

“Vamos agora fazer uma afirmação mais forte: nas economias modernas, a principal fonte de criação de moeda é a concessão de crédito pelas OIFM (bancos) às famílias, às empresas e ao Estado” “Política Monetária e Mercados Financeiros” (página 53)

Até aqui falámos de como os bancos financiam empresas e famílias. Foquemo-nos agora no financiamento do Estado.


Conheça os “mercados”…

“Existem duas formas de conquistar e escravizar uma nação. Uma delas é pela guerra. A outra é pela dívida.” – John Adams

Para compreender o endividamento do estado, coloquemos a pergunta: porque é que o estado se endivida? Por outras palavras, porque surge a dívida pública?

A dívida pública é causada, principalmente, pela necessidade de financiar o défice orçamental. O défice orçamental resulta da diferença entre receitas e despesas do estado. Como o estado tem mais despesas que receitas, o dinheiro para cobrir esse défice tem de vir de algum lado. Na conjuntura actual, esse dinheiro tem de ser pedido emprestado. Daí o estado emitir títulos de dívida para se financiar e “tapar o buraco” momentaneamente.

Repare-se que uma das soluções seria reduzir, ou mesmo eliminar o défice orçamental para travar o endividamento. Porém, é politicamente desagradável tomar medidas para reduzir/eliminar o défice porque para tal, o estado precisava de: a) Aumentar os impostos para aumentar as receitas ou b) Reduzir as despesas através de cortes e medidas de “austeridade”. Ou uma conjugação dessas duas variáveis.

Como nenhum responsável político está disposto a arriscar a sua popularidade e eleição, é tomada a saída mais fácil (a curto prazo): endividamento. E assim a dívida pública aumenta, aumenta ao ponto de o estado pedir dinheiro emprestado para pagar empréstimos antigos (como foi já admitido pelo primeiro ministro). Aumenta ao ponto de 2/3 do dinheiro pago em IRS servir para pagar, exclusivamente, juros da dívida pública.

Mas, façamos a pergunta: quem compra a dívida que o estado emite? Não é preciso muito para obter resposta. Apesar da comunicação social se referir a estas entidades como “mercados”, a verdade é que são maioritariamente bancos que compram os títulos de dívida emitidos pelo estado(www.igcp.pt).

Muito bem, são os bancos que compram títulos de dívida do estado. Mas… de onde vem o dinheiro que os bancos usam para comprar os títulos que o estado emite?

Incrivelmente, esse dinheiro é criado a partir do nada. Na página 54 da obra “Política Monetária e Mercados Financeiros” os autores informam-nos que “Aquisição de activos por um banco cria nova moeda”, sendo que sempre que um banco compra títulos (acções, obrigações, etc.) a agentes do sector não monetário (no qual se inclui o Estado), o banco está, mais uma vez a “inventar” dinheiro que não existe e a introduzi-lo na economia. Nunca se perguntou onde os “mercados” arranjam tanto dinheiro para emprestar? Agora já sabe. Eles criam-no, a partir do nada. Depois cobram juros sobre os empréstimos.

Para além desta gigantesca fraude que consiste em emprestar dinheiro que não existe e exigir juros sobre ele, note-se que os bancos especulam e, de facto, lucram com o colapso da economia de países inteiros. Ao saberem que um país está em risco de não conseguir pagar o que deve, os juros vão aumentando (especulação) até que o país não consegue mesmo pagar os empréstimos aos bancos. Quando o incumprimento é iminente, os bancos, receosos de perderem os seus “investimentos”, forçam os estados a “pedir ajuda externa”. Ora, o que é uma ajuda externa? É um eufemismo para um novo empréstimo gigantesco a ser contraído pelo estado para conseguir pagar as dívidas antigas, para que os bancos consigam reaver o dinheiro que “investiram” acrescido dos juros exigidos. Em que situação fica o estado depois desta manobra? Fica com uma dívida ainda maior a pagar a entidades como o Fundo Monetário Internacional, para além da população sofrer as medidas de “austeridade” impostas por essa mesma instituição.

Existe incompetência/irresponsabilidade política neste processo? Claro que sim, mas é de reter que a falência e bancarrota são o resultado inevitável de um sistema baseado em dívida e que a “culpa” desta situação recai na própria configuração do sistema monetário (especialmente, no sistema bancário).

Como é que isto aconteceu? Porque é que o estado se submeteu ao sistema bancário? A verdade é que, historicamente, os interesses políticos convergiram com os interesses bancários. (6)

Os governos queriam (e querem) ter quantidades de dinheiro elevadas ou até infinitas, à sua disposição para gastar e financiar as suas operações. Se procedessem os próprios à criação de dinheiro, constantemente, um processo de inflação irreversível poderia ser desencadeado. Assim, as elites políticas aliaram-se às elites financeiras para obter quantidades ilimitadas de dinheiro a crédito. Desta forma, a intervenção dos estados alargou-se, pelo que até os grandes conflitos militares foram financiados através do crédito que os bancos concediam às nações em guerra.

O que é que o sistema financeiro pediu em troca? Como é óbvio, os impostos sobre a população. Os impostos são, aliás, tomados como colateral da dívida e são a garantia de que os empréstimos são sempre pagos com os devidos juros. É por isso que hoje, ao contrário do que a maioria pensa, o dinheiro dos impostos serve, principalmente, para pagar dívida contraída pelo estado. E as operações do estado (saúde, educação, etc.) são financiadas por empréstimos bancários (emissão de dívida pública).

Como nota final sobre este tema, é de destacar o íntimo compromisso político para com o sistema financeiro/bancário. A classe política está, de facto, subordinada e é inferior às instituições financeiras, e a sua actuação comprova este ponto definitivamente. O sistema político não pode servir os interesses da população em geral, porque está submisso e é controlado por forças de ordem maior.

“Quando um governo está dependente dos banqueiros para obter dinheiro, são eles (banqueiros) e não os líderes do governo que controlam a situação, pelo que a mão que dá está acima da mão que recebe.” Napoleão Bonaparte (Imperador de França) (5) “Temo que o cidadão comum não gostaria de ouvir que os bancos podem criar e criam de facto dinheiro. E aqueles que controlam o crédito de uma nação dirigem a política do governo e têm nas suas mãos o destino do povo.” Reginald McKenna (Chairman do Midland Bank)(6)


Esquema em Pirâmide e Inflação

“É um esquema em pirâmide. Esqueçam Madoff e Stanford, a economia mundial e o sistema monetário são um esquema em pirâmide e sempre o foram.” – Michael Ruppert (jornalista de investigação, autor)

O sistema bancário e a economia mundial que este suporta são, por definição, um esquema em pirâmide devido à necessidade de crédito bancário. Como o dinheiro é criado através de empréstimos, existe mais dívida (empréstimos+juros) do que dinheiro a circular na economia (empréstimos). Quando um banco faz um empréstimo, só o dinheiro do empréstimo está a ser criado. Ora, o banco cobra sempre juros. Os juros não existem na oferta monetária porque nunca foram criados. Isto faz com que os incumprimentos e as falências sejam matematicamente inevitáveis, pois não há, simplesmente, dinheiro suficiente na economia para pagar todas as dívidas aos bancos. A incapacidade de pagar a dívida (e de, consequentemente, entrar em falência) não é uma fraqueza de um agente económico. É uma imposição do sistema bancário à sociedade como um todo.

Para impedir que os incumprimentos aconteçam em massa (o que é provocado pela escassez estrutural de dinheiro), as instituições bancárias têm de constantemente emprestar dinheiro novo que cubra, pelo menos, o valor dos juros sobre a dívida existente. Mas, como é óbvio, esse dinheiro tem também uma dívida correspondente; tornando o sistema um ciclo vicioso que requer crescimento perpétuo para não entrar em colapso.

A constante introdução de dinheiro novo na economia faz com que todo o dinheiro perca valor – inflação (subida de preços). Importa frisar que este é o principal factor que determina se a economia “cresce” ou entra em “recessão”. “Crescimento económico” significa que os bancos emprestam muito dinheiro, o que em princípio dinamiza a actividade da economia. “Recessão económica” acontece quando não é criado dinheiro suficiente para cobrir os pagamentos da dívida, o que resulta em incumprimentos, falências, desemprego e crise económica.


Enquadramento institucional – BCE&FMI

Até agora descrevemos como as instituições bancárias emprestam dinheiro às famílias, empresas e Estados; impondo-lhes uma dívida impossível de pagar. Adicionemos agora à nossa análise outras instituições bancárias: os Bancos Centrais e outras entidades como o FMI e o Banco Mundial. (incompleto - Hephem)


A economia não vai recuperar

“Quem acredita que o crescimento exponencial pode continuar para sempre num mundo finito ou é louco, ou economista.” – Kenneth Boulding (economista)

Como vimos anteriormente, o sistema bancário exige que a massa monetária aumente constantemente para impedir a economia de entrar em colapso (incapacidade de pagar a dívida). Podemos afirmar, portanto, que o modelo económico vigente exige crescimento perpétuo. Mais precisamente, crescimento exponencial.

Não é apenas a quantidade de dinheiro que cresce exponencialmente. A população humana e o consumo de recursos acompanham este crescimento. Curiosamente, este modelo de “crescimento infinito” não é um exclusivo da criatividade de banqueiros e economistas. Este afirmou-se, claramente, quando a Humanidade descobriu o potencial dos combustíveis fósseis (carvão, gás natural e petróleo). E foi a descoberta desta fonte de energia, outrora abundante e barata, que permitiu o crescimento exponencial referido.

Portanto, temos um modelo económico baseado em dívida que exige crescimento infinito e, por outro lado, temos recursos (neste caso energéticos) finitos e esgotáveis que, actualmente, alimentam a actividade económica mundial. A instabilidade financeira e económica actual resulta, em parte, do início do choque entre estas duas variáveis.

Por outro lado, o sistema financeiro desenvolveu uma série de instrumentos muito interessantes. Entre eles, o derivado.

O termo “derivado” pode aplicar-se a vários instrumentos financeiros que derivam o seu valor de uma variável subjacente. Os derivados são, no fundo, apostas. Interessa para esta análise os produtos derivados que correspondem ao comércio de dívida (como Credit Default Swaps e Collaterized Debt Obligations, por exemplo), porque a dívida é, de facto, comprada e vendida nos mercados financeiros internacionais. Quando um banco faz um empréstimo ou compra títulos de dívida, é comum que de seguida venda essa dívida (obrigação) a um outro banco. E assim sucessivamente.

Essa dívida é vendida pelo preço a que corresponde o valor da dívida mais um X que adiciona o Banco, para lucrar com a venda. O Banco que compra vende ainda a outro, com outro aumento de Y. Esse terceiro Banco que compra arrisca-se a ficar com uma dívida, chamada de derivado ou produto tóxico, que não é capaz de vender porque as sucessivas adições de valor encareceram-na. O Banco que não consegue vender a dívida endivida-se ao ponto de fazer falência. Foi o que aconteceu com a Fannie Mae, Freddie Mac (dois Bancos gigantes americanos).

É a dança da batata quente. Passam a batata quente de Banco para Banco, esperando conseguir sempre vender e lucrar com isso. Quando não conseguem vender chamam-lhe “a crise da confiança” pois o Banco não acredita que poderá conseguir revender aquele derivado se o adquirir. Quando um banco detém derivados de valor tão alto que ninguém quer comprar, é frequente o estado intervir para salvar o banco. Nesta comédia, o Estado salva o sistema bancário com o dinheiro que os bancos lhe emprestaram.

A compra e venda de dívida, que tinha por base empréstimos de alto risco (subprime) é apontada como o factor determinante para o desencadear do crash de 2008. Quando os incumprimentos se iniciaram em massa (causados pelo aumento dos juros sobre os empréstimos e pelo aumento do preço dos combustíveis), o valor destes derivados caiu a pique, deixando na falência quem os tinha comprado.

Neste momento, estima-se que existam mais de 700 biliões de dólares em derivados a circularem no mercado financeiro global. A bolha dos derivados está longe de ter implodido por completo. (2)


Conclusões

Como foi explicado, o sistema bancário é responsável por dois fenómenos monetários actuais: a destruição do poder de compra através da inflação e o colapso da dívida. A par desta realidade o modelo monetário é, por definição, expansionista, pelo que exige um crescimento infinito e a exploração exaustiva dos recursos naturais para alimentar a expansão/crescimento.

Vimos também que este sistema é altamente abstracto e, por consequência, ilusório e falso. Não existem atributos reais ou físicos num sistema desta natureza. Por outras palavras, o dinheiro não é real, a dívida não é real, os juros não existem. Não passa tudo de uma invenção e de uma ilusão.

Existe ainda outra questão que até agora não foi abordada. A dívida é uma ferramenta para controlo social. Uma pessoa endividada é uma pessoa submissa, com pouca ou nenhuma liberdade e escolha. A sua situação leva-a a aceitar ordenados mais baixos e a ser menos propensa a questionar a sua realidade laboral. O controlo político também está assegurado. Um Estado/governo endividado não está em posição de decidir o futuro de uma nação de acordo com a vontade dos eleitores. Agora que compreende um pouco melhor a realidade do sistema em que vivemos, deve também saber que este não é uma inevitabilidade.


Notas

Consultar também Como é criado o dinheiro?

Categoria:Artigo